Abril 29, 2025
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Tenho revisto as cenas da sequência do filme Cabaret (1972), dirigido por Bob Fosse, com Liza Minelli e grande elenco, conhecida como "Tomorrow belongs to me" (O amanhã pertence a mim), da qual ofereço em anexo uma tradução de minha lavra*, ao fim desse texto. 

Nela dois dos personagens, o inglês Brian Roberts (Michael York) e o aristocrata alemão Maximilian von Huene (Helmut Greim) vão a um "Bier Garten" (bar/café ao ar livre) próximo da casa de campo deste último, na Alemanha.

Ali se desenrola uma cena que começa idílica e se transforma em sinistra. A câmera foco o rosto bonito de um jovem louro, que entoa, com sua voz de tenor, quase de tenorino, uma canção que reúne alguns lugares comuns (expressão que não é necessariamente pejorativa) do romantismo germânico (embora composta por dois norte-americanos, John Kander e Fred Ebb). Ela fala de um veado que corre livre na floresta, do sol que aquece o prado, do bebê que adormece no berço, da tempestade de verão que se aproxima… reunindo tudo sob o refrão-título: "o amanhã pertence a mim", isto é, ao vigor da juventude. 

A câmera, descendo lentamente, revela que o jovem veste a camisa parda dos SA nazistas, com a braçadeira expondo a suástica. A canção idílica vai se transformando num hino belicoso, na medida em que quase toda a plateia, de todas as idades, canta com o jovem. Ao fim, os dois amigos se retiram, assustados, e Brian pergunta a Max: "você ainda acha que pode controla-los?", numa referência a crença deste de que os nazistas serviriam para neutralizar a esquerda e depois poderiam ser contidos pelas forças políticas dos conservadores tradicionais.

A cena serve muito bem para encararmos o que se passa no Brasil de hoje. Escrevo estas apressadas linhas às sete da manhã (hora de Brasília), meio dia em Berlim. Não sei qual será a decisão do STF sobre a prisão ou não do ex-presidente Lula. Mas sei que, seja ela qual for (prisão, liberdade, postergação) ela levará os golpistas remanescentes à histeria, seja ela festiva ou enfuriada.

Em primeiro lugar, porque eles já ficaram histéricos, com a decisão anterior do STF, dando uma espécie de "salvo-conduto" a Lula até hoje, 4 de abril. Esta decisão não estava no seu script. Em segundo lugar, porque ela veio se somar a uma série de problemas que eles enfrentam, embora de momento detenham a faca, o queijo e o tabuleiro político nas mãos. E os problemas vão se transformando em impasses.

O governo Temer está nas cordas e na lona. Desmoralizado e desmoralizando o Brasil no mundo inteiro, só tem a oferecer o espetáculo vexaminoso de sua luta pela própria sobrevivência em meio a um mar de denúncias e de fracassos até mesmo em relação ao vergonhoso programa de retrocesso político, social, econômico, cultural e educacional, além de na previdência e na saúde, que vem se esforçando por impor ao país.

Os golpistas estão esfrangalhados, embora ainda os una o empenho em retirar Lula da eleição e as esquerdas da cena política. Seu poder de mobilização das parcelas reacionárias das classes médias arrefeceu, embora continuem as campanhas virulentas na mídia e nos espaços virtuais.

Atesta este impasse o fracasso das manifestações pela prisão de Lula convocadas para ontem (3), em todo o país - até com o auxílio de empresas - que se limitaram a reunir uns poucos gatos pingados de norte a sul, de leste a oeste. Gatos pingados, porém perigosos. O seu jogo está se tornando cada vez mais violento, açulados pela aura de impunidade que os protege.

O que se viu nos últimos dias mostra bem a agitação deflagrada nas suas hostes tanto pelo sucesso das caravanas de Lula e a formação de uma frente (ainda limitada às esquerdas) anti-fascista quanto pela decisão (para eles inesperada) do STF.

O que foram pedradas e chicotadas contra a caravana se transformaram em tiros contra os ônibus, com as autoridades do Paraná fazendo vista-grossa e políticos que querem aparecer como moderados condenando as vítimas pelo incidente.

Pipocaram editoriais na mídia golpista pedindo a prisão do ex-presidente. Pedindo? Ordenando. Multiplicaram-se as vozes dos economistas de vitrine pregando que o esfrangalhamento da economia do país, seu retalho entre multinacionais, o dramático desemprego, a precarização do trabalho que corrói o poder aquisitivo da população, o neo-crescimento da desigualdade, da miséria, do número de pedintes, incluindo crianças, o retorno do Brasil ao mapa da fome, tudo isso junto chama-se "recuperação" e "retorno à normalidade".

Sem falar na redução a pó de traque do prestígio brasileiro na cena internacional, que se mantinha de pé até o golpe de 2016. Para completar o conturbado quadro, vieram à tona declarações inoportunas (para os golpistas oportunas, válidas e inseridas no contexto) de próceres militares sobre combate à impunidade e falando em "missão institucional".

O maior problema enfrentado pelos golpistas é o de que o Brasil não cabe mais (e faz tempo) no tabuleiro de usas ideias anacrônicas, feitas de importações das piores quinquilharias do pensamento neo-liberal e norte-americano.

Portanto, para manter o tabuleiro e a tábua das suas ideias, tudo o que terão a oferecer será a sinistra combinação que se prefigura naquela canção do filme: um conluio de repressão violenta para manter "a ordem" e o suposto progresso, com a impunidade da baderna dos grupos para-militares, da sanha da nova "tigrada" corporativa, agora muitas vezes togada, aliada à propagação mais deslavada de "fake news" na mídia e no campo virtual. Como já mencionei, independentemente do resultado de hoje no STF. Até quando?

O diabo é o que e quanto teremos de pagar para ver.

 

A tradução livre da canção do filme:

 

Original: 

The sun in the meadow is summery warm

The stag in the forest runs free

But gather together to greet the storm

Tomorrow belongs to me

 

The branch of the linden is leafy and green

The Rhine gives its gold to the sea

But somewhere a glory waits unseen

Tomorrow belongs to me

 

The babe in the cradles is closing his eyes

The blossom embraces de bee

But soon says a whisper: "arise, arise"

Tomorrow belongs to me

 

O fatherland, o fatherland show us the sign

Your children have waited to see

The morning will come when the world is mine

Tomorrow belongs to me

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Tradução:

O veado na mata corre em liberdade

O sol do verão aquenta o prado enfim

Mas reúnam-se para saudar a tempestade

O amanhã pertence a mim

 

O ramo da tília é verde e frondoso

O Reno entrega seu ouro ao mar sem fim

Mas em algum lugar aguarda um futuro glorioso

O amanhã pertence a mim

 

A criança no berço os olhos fecha no acalanto

A flor abraça o besouro carmim

Mas logo um suspiro nos ergue em seu canto

O amanhã pertence a  mim

 

Ó pátria, ó pátria, nos dá o sinal

Que teus filhos aguardam, sim

A manhã nascerá em meu mundo afinal

O amanhã pertence a mim

 

FONTE: Rede Brasil Atual

O Supremo tem, agora, uma arma apontada contra os juízes: ou votam contra o HC de Lula e pela prisão em segunda instância, ou… ou o quê, general? Traem a pátria? Traem o interesse público? Contrariam suas convicções pessoais? Desagradam sua corporação?

Se o ministro Fachin tinha sido ameaçado, agora teria razões para denunciar a chantagem.

Vivemos uma sequência de ataques à democracia e à independência dos poderes.

Marielle e Anderson assassinados, a caravana de Lula agredida com tiros e impedida, pela violência, de seguir viagem, a mídia ensandecida porque a direita não encontra um candidato viável.

Querem o quê? Prender Lula? Se não bastar, pretendem o quê? Suspender as eleições ou neutralizá-la com o parlamentarismo tirado do bolso do colete nas vésperas do pleito?

O que muita gente boa parece não entender é que o impeachment, na atmosfera envenenada por um antipetismo patológico, abriu caminho para que saíssem do armário todos os espectros do fascismo. "Não sou petista: sou anti-antipetista."

O antipetismo é o ingrediente que faz as vezes do antissemitismo, na Alemanha nazista.

O antipetismo identifica O CULPADO de todas as perversões, o monstro a abater, o bode expiatório, a fonte do mal.

O antipetismo gerou o inimigo e gestou a guerra político-midiática para liquidá-lo, guerra que se estende, sob outras formas (mas até quando?), às favelas e periferias, promovendo o genocídio de jovens negros e pobres, e aniquilando a vida de tantos policiais, trabalhadores explorados e tratados com desprezo pelas instituições.

Há um fio de sangue que liga as palavras ameaçadoras do general, interferindo na autonomia do Supremo, na véspera do julgamento do habeas corpus de Lula, a agenda regressiva que cancela direitos, as balas contra a caravana de Lula e a execução de Marielle e Anderson.

Os autores não são os mesmos, e existem contradições entre eles, mas há uma linha de continuidade porque todas ocorrem no cenário de degradação institucional criado pelo antipetismo e nele se inspiram.

Ser contrário ao antipetismo, mesmo não sendo petista, é necessário para resistir ao avanço do fascismo.

Os que votaram pelo impeachment e, na mídia, incendiaram os corações contra Lula e o PT, sem qualquer pudor, não tendo mais como recuar, avançam ao encontro da ascensão fascista, que ajudam a alimentar, voluntária e involuntariamente.

Não podemos retardar a formação de ampla aliança progressista pela democracia, uma frente única antifascista.

*Luiz Eduardo Soares é antropólogo, cientista político e especialista em segurança pública 

Stephen Lerner é um estrategista do campo sindical norte-americano. Além de ter participado da fundação de diferentes entidades, Lerner ganhou notoriedade por atuar no Occupy Wall Streetmovimento que, em 2011, reivindicou igualdade econômica, e também pela campanha Justice for Janitors, algo como "justiça para os trabalhadores da limpeza", de meados da década de 1980 e alcançou maior dignidade para os trabalhadores do setor nos Estados Unidos e no Canadá. O caso foi detalhado pelo filme Pão e Rosas (2000), do aclamado diretor Ken Loach.

Em visita ao Brasil, Lerner participou de um debate no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região nesta terça-feira (3). Ao lado dele, a presidenta da entidade, Ivone Silva, o sindicalista italiano da UNI Finanças, Antônio Di Cristo, e a presidenta dessa entidade internacional, a brasileira Rita Berlofa. No centro dos debates, paralelos entre as conjunturas políticas de Brasil e Estados Unidos, além da luta sindical em um momento de avanço do capital internacional contra regulações no mundo do trabalho.

"A sensação é de que estamos em um fio de navalha. Ou vamos melhorar muito ou piorar muito, mas não ficaremos neste meio termo. Isso significa que o que nós fizermos vai ter uma grande diferença, mais do que em qualquer momento anterior de nossas vidas", disse Lerner, ao afirmar que os trabalhadores do setor bancário devem assumir um importante papel no cenário econômico mundial.

Para o sindicalista norte-americano, se o Estado não regulamenta o setor financeiro, os trabalhadores e sindicatos devem assumir o papel de pressionar os bancos para que eles não cometam "práticas perigosas". "Precisamos construir uma nova regulamentação para domar essa instituições". Para exemplificar o que considera práticas danosas oriundas da desregulação do capital financeiro, Lerner cita o caso de Porto Rico, estado anexo aos Estados Unidos que está à beira da falência.

"O Santander e outros bancos tiveram lucros extraordinários a partir de empréstimos predatórios em Porto Rico. Algo muito parecido com o que viveu a Grécia. Agora, Porto Rico foi à bancarrota com o adendo de um furacão. O que era uma crise financeira, se tornou uma crise humanitária", disse sobre a condição local. "Seis meses depois do furacão, centenas de milhares de pessoas ainda estão sem água e sem eletricidade. As casas das pessoas estão sem telhados", completou.

Em resposta à crise, o governo local, em parceria com o governo de Donald Trump e do setor financeiro, aplicam um capitalismo do desastre. "Em vez de consertar a economia, as casas, os telhados, estão aplicando um severo ajuste fiscal. As escolas estão sendo privatizadas, a eletricidade está sendo privatizada. Estão vendendo até os prédios do governo com grandes descontos. A solução deles é transformar Porto Rico em um paraíso fiscal para os ricos. É a primeira vez que vemos esse estilo de austeridade, comandado pelo Banco Mundial, implantado nos Estados Unidos", disse Lerner.

A nova importância dos sindicatos

Lerner explicou que os trabalhadores do setor financeiro nos Estados Unidos recebem baixo salários, "um pouco mais do que garçons", e possuem baixo prestígio na sociedade local. Isso pode ser explicado porque o setor não possui organização. "Um terço dos bancários do mundo estão nos Estados Unidos e 99,9% deles não são sindicalizados. As pessoas merecem uma remuneração decente e os trabalhadores não podem ser obrigados a vender produtos predatórios que trapaceiem clientes", disse.

Para o sindicalista, parece óbvio que, para desafiar o poder, é preciso ter o suporte de uma organização. Apenas a partir disso, o trabalhador poderá "perder o medo". A prevalência desse "medo", no entanto, pode influenciar na escalada do ódio em nível global.

"É impressionante, mas vemos em todo o mundo um tipo de nacionalismo etno racista. Em um momento semelhante, nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, surgiram essas mesmas soluções", observou. "Com o colapso do neoliberalismo (evidenciado pela crise de 2008), vemos o surgimento desses movimentos da nova direita que oferecem essas 'respostas fáceis'. Em vez de dizer que as grandes empresas estão pilhando a economia, eles apontam para o medo, atacam estrangeiros. É estonteante, mas existem, nos Estados Unidos, passeatas de pessoas que se dizem abertamente nazistas."

Para enfrentar o problema, Lerner propõe uma autocrítica do modelo sindical no mundo. "Precisamos pensar que o movimento sindical não foi forte o suficiente para se impor ao declínio do neoliberalismo. O exemplo disso é que estamos na defensiva, e para nós a defensiva só nos garante uma morte mais lenta."

Então, a solução é engajamento, e os trabalhadores precisam ser convencidos disso. "Para criticar um banco, não precisamos apenas falar de como os trabalhadores ganham mal. Mas, em aliança com os movimentos sociais, temos que mostrar como os bancos prejudicam a todos. Tem bancos que financiam a indústria bélica e precisamos dizer isso, dizer que bancos investem em empresas que matam nossos filhos nas escolas. Nos Estados Unidos, tem bancos que cobram juros hipotecários maiores de negros do que de brancos. Então, temos que falar de gente sendo extorquida, tudo isso junto."

"É para a população que devemos mostrar. Eles devem perceber o real inimigo e não aceitar esse discurso fácil contra imigrantes. E o sindicato é o caminho para obter justiça em diversos aspectos da vida. Quando estreitamos a visão do sindicato, não atingimos a alma das pessoas. O sindicato não é só para ganhar mais, é para o imigrante poder ser documentado, não tomar mais porrada da polícia, para todos terem casas decentes. O benefício vai para além dos trabalhadores do sindicato, atingem toda a sociedade. A partir daí, as pessoas começam a superar seus medos", completou.

 

FONTE: Rede Brasil Atual

O processo eleitoral do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro está em andamento. A votação começa na próxima terça-feira (10) e segue até sexta-feira (13).

Todos os bancários sindicalizados podem votar, inclusive aqueles que estão afastados para tratamento de saúde, os que foram demitidos nos últimos seis meses e os aposentados que eram sindicalizados no momento da aposentadoria. Basta apresentar um documento de identidade com foto. Urnas itinerantes percorrerão as agências durante os dias de votação. Haverá também uma urna fixa na sede do sindicato.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) apoia a CHAPA 1 – Unir, Resistir e Avançar, encabeçada pela bancária Adriana Nalesso, do Itaú, atual presidenta do sindicato.

“A Chapa 1 reúne trabalhadores de sete diferentes instituições financeiras. Isso permite uma excelente representação da categoria. Além disso, é a chapa que conta com o apoio da grande maioria dos sindicatos em todo país. Como a campanha dos bancários é nacional esse é um fato importante. Garante a unidade da categoria na luta por seus direitos”, disse Roberto von der Osten, presidente da Contraf-CUT.

Conheça os integrantes, as propostas e obtenha mais informações no site da Chapa 1.

Fonte: Contraf-CUT

O deficit cresceu em todos os planos da Funcef em 2017. De acordo com os resultados apresentados pela Fundação na última quarta-feira (28), mesmo com rentabilidade acima da meta, Novo Plano, REB e REG/Replan o deficit nos planos da Funcef se elevou em R$ 4,7 bilhões. Considerando anos anteriores e os valores incluídos nos planos de equacionamento, a Funcef apresenta um deficit acumulado de R$ 6,5 bilhões.

O valor não é maior porque, no final do ano, a diretoria executiva aprovou dois planos de equacionamento, nos quais foram contabilizados R$ 10,6 bilhões. Como explica a diretora de Saúde e Previdência da Fenae, Fabiana Matheus, esse dinheiro deixou de ser contabilizado como deficit e será cobrado dos participantes em contribuições extraordinárias.

“Esses bilhões que seriam contabilizados como deficit, agora levam o nome de reserva a integralizar e serão descontados no contracheque dos participantes”, alerta a diretora da Fenae.

R$ 10,6 bilhões serão cobrados nos contracheques

No final do ano passado, a Funcef aprovou o primeiro plano de equacionamento do REG/Replan Não Saldado, abrangendo um montante de R$ 929,4 milhões e já com a quebra da paridade, ou seja, com os participantes desse plano assumindo 58% do deficit enquanto a Caixa acará somente com 42%.

No caso do Saldado, os outros dois planos de equacionamento já implementados contemplavam somente a parcela mínima do deficit permitida por lei. Com isso, a Funcef apostou na cobrança de contribuições extras menores referentes a 2014 e 2015 (2,78% e 7,86%, respectivamente) enquanto o desequilíbrio se acumulava. Também no final de 2017, pouco antes do término da atual gestão, a diretoria da fundação aprovou o terceiro plano de equacionamento do Saldado, referente a 2016, desta vez, contemplando todo o deficit e não mais o valor mínimo. Neste plano, foram incluídos R$ 9,7 bilhões, que geraram o novo desconto de 9,59% - previsto inicialmente par ser implementado em março - totalizando 20,23%.

Oportunidade perdida

A rentabilidade dos planos foi, em média, cerca de 5 p.p acima da meta atuarial, mas foi insuficiente para evitar o aumento do deficit. A elevada concentração de investimentos no segmento de renda fixa comprometeu a recuperação dos planos, que mantém nos títulos públicos R$ 6 de cada R$ 10 investidos. Com a Taxa Selic em queda, a renda fixa foi o segmento de mais baixo desempenho, inferior inclusive à rentabilidade do CredPlan. “A Funcef está ganhando mais cobrando juros dos participantes do que com títulos públicos”, observa Fabiana.

Enquanto isso, os investimentos estruturados e a renda variável tiveram as maiores rentabilidades. No Novo Plano, por exemplo, cerca de 70% dos ativos estão em renda fixa, enquanto 20% dos investimentos estão na renda variável e apenas 2,7% estão nos estruturados, como os chamados Fundos de Investimento em Participações, os FIPs. No entanto, os estruturados apresentaram a maior rentabilidade de todas (36,53%), enquanto a renda variável obteve 21,19% e a renda fixa apenas 9,62%.

“Os fundos que souberam aguardar o bom momento da bolsa de valores, estão colhendo os frutos em seus resultados”, avalia a diretora da Fenae. Fabiana cita o exemplo da Previ, fundo de pensão do pessoal do Banco do Brasil, que manteve suas posições em renda variável e pegou o embalo do mercado de ações em 2017. No acumulado de janeiro a outubro, o índice Bovespa foi equivalente a 15 vezes a inflação (INPC).

Reclassificação do contencioso

Outra medida aplicada pela Funcef no último mês de 2017 foi a reclassificação contábil do contencioso. Até novembro, o provisionamento feito nos planos de benefícios para cobrir o passivo trabalhista originado pela Caixa era de R$ 2,4 bilhões. O balanço anual, porém, fechou com uma redução de mais de R$ 1 bilhão na provisão para as chamadas ações de perda provável, aquelas cuja contabilização é obrigatória. Com isso, o novo provisionamento está em R$ 1,4 bilhão.

“A reclassificação contábil foi usada pela diretoria para reduzir o deficit a registrado no balanço. Se essas ações reclassificadas forem executadas lá na frente, as perdas virão e carregarão o deficit de qualquer maneira”, comenta Fabiana.

Fonte: Fenae

As tradicionais feijoadas mensais que acontecem em nossa Sede de Duque de Caxias e SubSede de Nova Iguaçu já tem datas definidas no mês de abril:

Dia 20/04 - SubSede de Nova Iguaçu

Dia 26/04 - Sede de Duque de Caxias

Esperamos todas as bancárias e bancários para mais dois eventos imperdíveis e deliciosos.

Até lá!

A Caixa Econômica Federal foi condenada a se abster de descomissionar os detentores dos cargos de “Gerente de Relacionamento PJ Público/Privado”, “Gerente de Atendimento e Relacionamento Governo” e “Gerente de Relacionamento Pessoa Física” que não obtiverem a certificação CPA 20 até o final de julho, conforme sentença proferida em 27 de março, pelo Juiz Paulo Henrique Tavares da Silva, Titular da 5ª Vara do Trabalho de João Pessoa.

Entendendo que a Instituição Financeira Pública cerceou o direito dos bancários, devido a problemas operacionais demonstrados no processo, a Caixa também foi sentenciada a oferecer condições econômicas e operacionais para submissão ao processo de avaliação aos empregados que ainda não têm a devida certificação, sob pena de multa diária no valor de R$ 5 mil reais/funcionário encontrado em desconformidade com a decisão judicial.

A direção da Caixa Econômica Federal, mesmo sabendo do grande número de empregados que precisariam da certificação da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) para exercerem funções comissionadas, estabeleceu o dia 31 de janeiro como o dia “D” para descomissionar “por justo motivo” aqueles que não obtivessem a certificação até aquela data, com base no RH 184. Além da exiguidade do tempo e a complexidade da prova, o sistema não suportou a demanda de inscrições, prejudicando os trabalhadores.

Ao tomar conhecimento desse absurdo, o Departamento Jurídico do Sindicato dos Bancários da Paraíba acionou o Escritório Marcelo Assunção & Advogados Associados que, de imediato, ingressou com a Ação Coletiva, solicitando o impedimento de descomissionamento por falta de certificação, condições econômicas e operacionais para os empregados se prepararem para a validação, aplicação de multa, em caso de descumprimento, bem como prorrogação do prazo para a certificação.

Para Jurandi Pereira, responsável pelo Jurídico do Sindicato dos Bancários da Paraíba, a direção da Caixa deveria ter levado em consideração o número de empregados que necessitavam da certificação. “Faltou uma estratégia para que nenhum empregado fosse prejudicado pela falta de planejamento da própria Caixa, que deveria ter oferecido condições e prazo adequados. Ainda bem que contamos com uma parceria jurídica eficiente e mais uma vez fomos contemplados com a sensatez da Justiça do Trabalho, ante o absurdo cometido pela direção da instituição financeira pública”, concluiu.

Fonte: Seeb/PB

A votação das eleições da Funcef 2018 começou nesta segunda-feira (2), às 11h, e seguem até às 18h de quarta-feira (4). Se nenhuma chapa obtiver 50% mais um dos votos, haverá segundo turno no período de 16 a 18 de abril.

Os participantes, assistidos e empregados da Funcef podem votar somente pelo site ou pelo aplicativo da fundação. Mas, para isso, é preciso ter um cadastro atualizado no Autoatendimento.

Existem três chapas na disputa, que elegerá três diretores, dois participantes do Conselho Deliberativo (e seus suplentes) e um participante do Conselho Fiscal e suplente.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) apoia e indica o voto na CHAPA 3 do Participante – Caixa Pública, Funcef Forte, composta por representantes de diversos segmentos de trabalhadores da Caixa que sempre estiveram engajados na defesa dos empregados do banco e reúnem as forças capazes de restituir o poder de voz e voto de todos os participantes dentro da Funcef.

A Chapa 3 luta pela defesa de uma Caixa 100% Pública e pela conquista dos direitos dos trabalhadores, além da luta por uma gestão da Funcef verdadeiramente sustentável para todos os beneficiários. Conheça os candidatos e as propostas. “Esta chapa é a que confiamos que vai melhor representar os empregados da caixa em Nosso Fundo de Pensão”, declarou Sérgio Takemoto, secretário de Finanças da Contraf-CUT e empregado da Caixa.

     > Leia também o boletim específico para aposentados e pensionistas

Para votar é preciso ser cadastrado no Autoatendimento da Funcef. Veja, abaixo, como criar sua senha ou alterá-la e outras possibilidades de acesso no autoatendimento.

Além de poder participar da eleição, a senha para a área de autoatendimento permite o acesso aos extratos de reservas; extratos e simulações de benefícios; extratos e informações sobre empréstimos; aos balanços e balancetes; e à política de investimentos do fundo.

Como criar sua senha
1) Acesse www.funcef.com.br
2) Na página principal, na parte de cima, ao lado da ferramenta de busca, clique em “Cadastrar senha”
3) Informe CPF e data de nascimento
4) Responda às perguntas de segurança

Como desbloquear sua senha na Central de Atendimento
De acordo com as informações disponíveis no site da Funcef, se você se lembra da sua senha, mas ela está bloqueada, é preciso ligar para a Central de Atendimento da Funcef (0800 706 9000) e solicitar o desbloqueio. A Funcef garante que esse serviço está disponível sem fila de espera pelo canal telefônico. Veja como fazer:
1) Ligue para 0800 706 9000
2) Digite a opção 1
3) Informe seu CPF

Para desbloquear ou alterar a senha no site da Funcef
Conforme as orientações disponíveis no site da fundação, os procedimentos são os seguintes:
1) Acesse www.funcef.com.br
2) Na página principal, na parte de cima, ao lado da ferramenta de busca, clique em “Esqueci a senha”
3) Informe CPF e data de nascimento
4) Responda às perguntas de segurança
5) Após todas as confirmações, o sistema informará o seu “lembrete de senha”, caso você já tenha cadastrado essa informação
6) Se a partir do lembrete você recordar a senha, clique em “Sim” e acesse o Autoatendimento normalmente
7) Caso contrário, clique em “Não” e receba um e-mail da Funcef com o link de onde você poderá cadastrar a nova senha
8) Se não receber o e-mail, verifique na lixeira ou na caixa de spam
9) Se o e-mail não estiver cadastrado ou estiver incorreto, entre em contato com o Fale Conosco e acesse a opção “Participante”
10) No formulário, marque a opção “Consulta”, selecione o assunto “Cadastro” e preencha os outros dados. No campo “mensagem”, informe o seu e-mail corretamente.
11) Anote o número de protocolo e aguarde. A Funcef afirma que resolverá a demanda com urgência, mas não define prazo. Para conferir o andamento, entre em contato por meio do 0800 706 9000.

O que posso fazer no autoatendimento?
Além do acesso à plataforma de votação onde você poderá escolher os dirigentes que vão gerir o seu fundo de pensão, na área de autoatendimento você encontra uma série de serviços e informações essenciais para a sua vida financeira:
- Extratos das suas reservas
- Extratos e simulações de benefícios
- Extratos e informações sobre empréstimos
- Acesso aos balanços e balancetes
- Política de investimentos

Fonte: Contraf-CUT

Além do indefectível efeito anestésico que aos poucos vai dominando corações e mentes de boa parte dos “indignados”, os dezessete dias decorridos desde o atentado que matou a vereadora carioca Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes nos trouxeram a certeza de que um ameaçador ovo de serpente está sendo chocado no Rio de Janeiro, com a anuência – para não dizer incentivo – do governo federal. Ao tirar proveito da situação de falência financeira, administrativa e política do Rio provocada pela gestão desastrosa de seu próprio partido, o MDB, e inventar uma intervenção na segurança pública fluminense que parece ter o principal objetivo de trazer dividendos ao seu próprio governo, o presidente Michel Temer assume o risco de entregar uma perigosa carta branca a setores das “forças de ordem” que têm as mãos manchadas pelo sangue de suas – muitas vezes inocentes – vítimas.

Enxerguemos além das pomposas cerimônias oficiais que recentemente reuniram ministros, secretários de segurança, deputados, delegados, generais do Exército e coronéis da Polícia Militar. Estes momentos são sempre repletos de anúncios de boas intenções, promessas vagas e citações a planos de ação concreta que “ainda estão sendo elaborados”. Bom, pelo menos daqui pra frente o cafezinho servido a autoridades e jornalistas durante as entrevistas coletivas talvez melhore de qualidade, já que o setor de segurança pública do Rio acaba de receber a ajuda extraordinária de R$ 1,2 bilhão do governo federal, por intermédio do recém-criado Ministério da Segurança Pública. Mas, enxerguemos além...

Provavelmente, só mesmo o simpático Eremildo, o idiota (personagem de mestre Elio Gaspari) deve estar acreditando que esta verba vinda de Brasília será efetivamente aplicada onde deveria, ou seja, em “melhora da infraestrutura, compra de veículos e equipamentos, blá-blá-blá”, como dizem as autoridades para um cada vez mais incrédulo povo fluminense. Parte da verba será necessariamente usada para isso, é claro, mas quem inspecionará se está sendo feita com correção a total aplicação desses recursos? O perigo, o grande perigo, e até as pedras das calçadas do Rio sabem disso, é essa verba se transformar em moeda de troca – literal e política – para grupos que hoje têm grande influência nas polícias fluminenses.

Sim, estou falando das milícias, o grande negócio paralelo descoberto por setores das “forças de ordem” do Rio desde o fechamento dos bingos e hoje o principal tumor a corroer a paz e a segurança no estado. Compostas majoritariamente por ex-policiais (muitos expulsos das corporações) – ou quase sempre por eles comandadas – estas milícias hoje controlam boa parte da capital e já atuam em diversas cidades do interior, chegando em algumas comunidades a exercer, como amplamente sabido, monopólio no transporte coletivo, na assinatura de tevê a cabo e na venda de botijões de gás. Lembra aquela história de que “viemos para acabar com o tráfico” que embalava a propaganda dos milicianos há alguns anos? Esqueça! Agora tem milícia no Rio que até vende maconha e cocaína...

Mas, velhos costumes não são esquecidos facilmente. Na semana passada, cinco jovens (dois deles menores de dezoito anos) que estavam reunidos em uma praça na cidade de Maricá no fim da madrugada após voltar de uma festa foram rendidos, deitados no chão e executados com tiros na cabeça. Nenhum deles tinha antecedentes criminais e, segundo vizinhos e parentes, tampouco envolvimento com o tráfico. É possível que estivessem usando drogas. Aos moradores que saíram às janelas assustados com os tiros, os matadores disseram, “entra, que isso é assunto da milícia”. Esses testemunhos não provam nada, é verdade. A investigação está a cargo da polícia, que também investiga a linha de “guerra pelo controle de pontos de venda de drogas”, embora ali não houvesse nenhum.

Também cabe à própria polícia a investigação sobre as mortes de Marielle e Anderson. Até o momento em que traço estas linhas, nada foi descoberto ou anunciado, embora a comoção internacional causada pelo episódio force às autoridades a apresentar algum resultado. Apesar de os assassinos terem se utilizado do modus operandi comum aos esquadrões da morte, a polícia – por dever de ofício, necessário a qualquer investigação – trabalha também com a hipótese de que traficantes da Maré (comunidade da vereadora assassinada) ou seus rivais tenham cometido o atentado.

Tudo bem, tudo deve ser investigado, mas quem conhece o Rio sabe que é muito improvável que o planejamento e a execução do crime tenham sido obra de traficantes. Embora não tivesse nenhum envolvimento com o tráfico, Marielle era respeitada na comunidade, era um símbolo positivo para a juventude da Maré e não representava ameaça a ninguém, a não ser aos incomodados com os desmandos policiais que denunciava. A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), onde Marielle despontou para a atuação política, recebe dezenas de denúncias de abusos policiais a cada mês. Os crimes incluem agressões e assassinatos, e cada vez mais envolvem a ação de milicianos.

Vidas que seguem, investigações que prosseguem, mas a sinalização para os “justiceiros” no Rio parece ser a de que “liberou geral” e (será paranoia minha?) os acontecimentos têm se acelerado após a morte de Marielle. Desde então, reapareceram de forma preocupante cenas que lembraram os piores momentos do estado, como, por exemplo, o confronto em via pública no Complexo do Alemão que resultou na morte de três pessoas que voltavam do trabalho.

Ou como as “incursões” na Rocinha que já deixaram um rastro de doze mortos, todos após confronto, segundo os policiais envolvidos, embora as negativas de familiares de algumas vítimas sobre o envolvimento destas com o tráfico estejam também aqui presentes. Independentemente se os mortos eram ou não traficantes, a ação na favela da zona sul carioca foi uma clara retaliação ao assassinato, ocorrido anteriormente, de um policial militar, tragédia exibida na tevê, e foi realizada com a intenção prévia de matar. O corporativismo fala mais alto, e a PM carioca mais uma vez foi fiel ao pior perfil de si mesmo. Se tivesse essa “eficiência” para proteger a população...

Posto isso, é evidente que precisamos também gritar e denunciar que, mais do que nunca, policiais estão sendo mortos aos montes no Rio de Janeiro. Esse hábito macabro que faz os bandidos assassinarem policiais surpreendidos em situação de vulnerabilidade – seja em ações da polícia ou, mais comumente, em roubos e assaltos - é o pus mais pestilento da ferida social carioca. Retrato de uma engrenagem onde bandidos e policiais se matam sempre que podem, e ambos volta e meia matam inocentes.

Traficantes e bandidos em geral são o que de pior pode ser produzido pela sociedade e devem ser punidos no rigor da lei. Os policiais e seus familiares são talvez as vítimas mais pungentes dessa tragédia, colocados na ponta de lança de um enfrentamento desigual e diuturnamente alimentado por um sistema cruel. Em sua imensa maioria, são policiais oriundos de famílias pobres, são filhos de trabalhadores que têm sua função e suas vidas menosprezadas. Assim como os jovens, em sua maioria negros e em situação de miséria, que se deixam seduzir pelo tráfico, esses policiais são peças descartáveis e estão neste jogo para morrer.

Enquanto isso, na corte, Temer viaja na suposta onda de popularidade que a intervenção na segurança pública do Rio teria lhe concedido (talvez na Vila Kennedy, comunidade carioca vizinha à Vila Militar onde o Exército empacou durante um mês e só saiu há alguns dias). Docemente constrangido com o “sucesso” da empreitada, nosso presidente admite até se candidatar à reeleição. Seria cômico, mas o problema é que a realidade de grande parte da população do Rio é trágica.

Não esqueçamos que Temer é protagonista de um processo de golpe e retrocesso político que não terminou com o afastamento de Dilma Rousseff. Muito pelo contrário, ele ainda segue seu curso. A efetivação do golpe envolveu e teve apoio de muitos setores, e Temer particularmente sempre buscou retribuir a simpatia dos chamados “setores policiais”. Essa busca foi explicitada com a injustificável criação do Ministério da Segurança Pública e agora corre o risco de virar uma festa macabra após a vultosa ajuda financeira dada pelo governo federal a uma ideia política reacionária e que utiliza o Rio e seu povo como cobaias e laboratório.

Que todos fiquemos atentos! E o alerta vale também para aqueles setores saudosistas de certas “páginas infelizes de nossa história”, quando policiais e bandidos mataram sem culpa, e que afetam e distorcem até hoje os conceitos de segurança pública de parte da sociedade brasileira. Quando o ovo eclodir, a serpente pode envenenar todo o Brasil.

Maurício Thuswohl é jornalista

 

FONTE: Rede Brasil Atual

As cidades no Brasil já foram imaginadas como alento à dominação autoritária e conservadora de mais de quatro séculos amplamente patrocinada pela antiga oligarquia agrarista. Com a Revolução de 1930, as cidades foram sendo convertidas em alvo fundamental do projeto urbano e industrial urdido pelas forças do tenentismo reformista.

Meio século depois, quando contemplam mais de 80% da população, as cidades assumiram a condição de lócus privilegiado da violência, pobreza, desemprego, enchentes, desmoronamento, imobilidade pública e outros males. A ofensiva das forças antidemocráticas no Brasil após a década de 1930 foi responsável pelo avanço da urbanização excludente, parteira de uma sociedade cindida, cada vez mais polarizada e ameaçadora das bases da coesão social.

Do ranking das cinquenta cidades violentas com mais 300 mil habitantes, por exemplo, o Brasil responde atualmente por mais de 1/3 (17 municípios). Dos quase 9 mil assassinatos por armas de fogo em 1980, o país passou para cerca de 45 mil em 2014, com crescimento de 400%.

Nos dias de hoje, mais de 60% dos assassinatos atingem a faixa etária juvenil de 15 a 29 anos, sendo quase 95% do sexo masculino. Nos últimos dez anos, os homicídios contraíram para o segmento branco, ao passo que para a população negra cresceu próximo de 50%.

Da violência instaurada, ganha espaço a rebaixada condição de vida dos moradores das cidades brasileiras. Prevalece, ainda, um enorme contingente não atendido sequer por serviços básicos, uma vez que cerca de 45% da população urbana segue sem esgoto tratado, o que leva ao desvio dos dejetos para o curso de reios e riachos. A poluição das águas decorrente do não tratamento de esgotos torna mais grave a própria crise hídrica, cada vez mais presente no quotidiano dos brasileiros.

Isso sem mencionar o tempo perdido durante os deslocamentos realizados intracidade. Enquanto o paulistano demora em média quase 45 minutos para se deslocar da casa para o trabalho, o carioca e o recifense comprometem cerca de 35 minutos diariamente. Ou seja, mais de 15 horas mensais, em média, sem nenhuma utilidade, salvo a mobilização em busca da sobrevivência no meio urbano ao custo de quase 40% do rendimento liquido do trabalhador de salário de base, incomparavelmente superior ao que se compromete, por exemplo, em Paris, Madri, Nova Iorque e Berlim.

Assim como o desemprego acentuou-se enquanto fenômeno urbano, a pobreza seguiu presente, sobretudo nas áreas periféricas dos grandes centros urbanos. Ao mesmo tempo em que reúne áreas ricas, com infraestrutura sofisticada, geralmente nas áreas centrais, e diversas instalações comerciais especializadas (como os hipermercados e shopping centers), parques e aparatos de segurança avançado, a periferia das cidades se estendeu marcada pela precarização das condições de vida e trabalho.

Nesses termos, as cidades no Brasil assumiram mais a modernidade capitalista demarcada pela forma privatizada, segregada e segmentada de vida com baixa integração social do que o espaço democrático e o exercício da cidadania. As experiências de administração democrática em diversas localidades municipais buscaram enfrentar problemas estruturais assentados na lógica excludente e desigual, incorporando práticas inclusivas aos novos atores. 

Tudo isso, contudo, termina retroagindo rapidamente com o receituário neoliberal conduzido pelo governo Temer, quando não aprofundado ainda mais pela presença de administrações liberais conservadoras. Sem mudar drasticamente a natureza das cidades, medidas isoladas e pontuais de espetar alguns dos dramas da urbanidade brasileira dificilmente alcançarão algum êxito.

Isso é o que parece ficar a cada vez mais evidente em relação à recente intervenção militar no Rio de Janeiro.

*Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas.
 
FONTE: Rede Brasil Atual