Novembro 22, 2024
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Mesa de negociações reivindica igualdade de oportunidades como prioridade

Durante a mesa sobre Igualdade de Oportunidades, realizada com a Fenaban, nesta quinta-feira (11/7), como parte das negociações da Campanha Nacional de 2024, para a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria, o Comando Nacional dos Bancários mostrou que, na Consulta Nacional da Categoria Bancária, realizada neste ano com quase 47 mil trabalhadores do setor de todo o país, o tema Igualdade de Oportunidade apareceu na 5ª colocação entre as prioridades da classe, relacionadas às cláusulas sociais.

Além disso, o Movimento Sindical pediu, ainda, um novo Censo da Diversidade, onde todos os bancos façam adesão ao programa Empresa Cidadã e realizem ações de permanência e ascensão das populações mais vulneráveis.

Nilton Esperança, Presidente da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo (Fetraf RJ/ES), representou a entidade na mesa.

Além dele, Carlos Pereira (Carlão), Secretário de Imprensa e Comunicação do Sindibancários-ES e representante da Intersindical, também participou da reunião.

Nilton Esperança comentou sobre a reunião.

“Colocamos na mesa a importância de se discutir a Lei de Igualdade Salarial, entre homens e mulheres e, também, falamos sobre as diferenças que existem entre negras e negros para pessoas brancas, nos bancos. Além disso, queremos: a ampliação do número de mulheres na área de TI; atualizar os relatórios de acompanhamento; e discutir assédio sexual e moral. Na pesquisa feita pelo movimento sindical, estes dados nos causaram preocupação e exigimos medidas mais efetivas para coibir estas condutas.”

E completou. “Pedimos para que a adesão ao programa da empresa cidadão também valha para a licença de maternidade. E que discuta o acesso e acolhimento de pessoas LGBTQI+ e trans. Precisamos retomar o censo com auto declaração. Sem discriminação e mais respeito.”

Nilton falou da importância da mobilização da categoria. “Temos que cobrar dos banqueiros todos esses pontos. Nos mobilizarmos. É necessária a participação de toda a categoria, para mostrar que estamos atentos e sentindo essas diferenças. E que estamos dispostos, em conjunto com o movimento sindical, a resolver essas disparidades.”

“A Fenaban diz está tentando evoluir nesses temas e disse que assumem o compromisso de discutir com os bancos, pois também estão de acordo com o movimento sindical. Vamos acompanhar e cobrar essas atitudes pois, para exemplificar, no fechamento das agências, a maioria das demissões foram de mulheres, por não estarem nos cargos principais. Queremos e vamos cobrar atitudes urgentes. Sugerimos mudar a cláusula: ao invés de aderir, queremos que todos os bancos tenham compromisso com as licenças maternidade e paternidade, assim que retornarem às suas atividades.”, finalizou.

Os trabalhadores colocaram na mesa números que revelam que existem grande desigualdade salarial e de acesso no setor bancário, com base em relatório elaborado pelo Dieese a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2022, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

“Esse resultado aponta que as mulheres bancárias percebem claramente a situação de desigualdade salarial entre gêneros e de ascensão profissional dentro das empresas”, destacou a coordenadora do Comando Nacional dos Bancários Juvandia Moreira.

Apesar de representarem quase 48% da categoria, as bancárias tem remuneração média 20% inferior à remuneração média dos homens bancários. O recorte racial revela uma distorção ainda pior: as mulheres bancárias negras (pretas e pardas) têm remuneração média 36% inferior à remuneração média do bancário branco.

Por conta dessa diferença, para que as mulheres negras bancárias recebam a mesma remuneração que os colegas homens e brancos, elas teriam que trabalhar num mês de 48 dias ou mais 7 meses do ano para haver igualdade salarial.

“Quando olhamos o quadro geral, de todo o mercado de trabalho no país, as mulheres recebem cerca de 22% menos de remuneração que os homens. Então, o retrato da nossa categoria não é muito diferente do cenário nacional. Isso, é preocupante, porque mostra que, nos bancos, há um reflexo de desigualdades que precisa e deve ser combatido”, destacou Juvandia, que também é presidenta da Contraf-CUT.

As desigualdades salariais de gênero se repetem em praticamente todos os cargos do setor bancário, mas se aprofundam nos cargos de liderança, onde elas recebem cerca de 25% menos que seus pares, e quanto maior for a escolaridade, onde as bancárias com doutorado recebem 61% da remuneração média dos homens bancários também com doutorado. As mulheres recebem mais que os homens em apenas 2,8% do total das ocupações no setor bancário.

“Por que uma mulher negra recebe diferente de uma mulher branca ou um homem branco, exercendo a mesma função? Não há justificativa para isso, a não ser um problema estrutural que temos que enfrentar, por uma questão de reparação histórica”, alertou Neiva que também é coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região (Seeb-SP).

Questão racial

Apesar de negros e negras representarem mais de 56% da população, segundo o IBGE, compõem 26,2% da categoria bancária, sendo que as mulheres negras apenas 12% do total de trabalhadores no setor. Esse dado, da Rais de 2022, mostra uma leve melhora no setor, considerando que, dez anos antes, em 2012, negros e negras representavam 18,9% da categoria.

Também há diferença salarial significativa entre homens bancários brancos e negros, com o segundo grupo recebendo remuneração média de 78,9% da remuneração média dos brancos.

“Para que os bancos não continuem reforçando essa discriminação que está materializada no dia a dia, entre homens e mulheres, negros e negras, precisamos de mudança, mas essa mudança só vai acontecer com diálogo e enfrentamento em pontos sensíveis como acesso e ascensão”, completou Juvandia.

Redução de mulheres na TI

Os bancários também mostraram que está havendo uma redução de mulheres contratadas em todos os cargos do setor. Entre janeiro de 2020 e maio de 2024, houve redução de 11.514 postos. Porém, quando é feito o recorte de gênero, o saldo positivo de emprego bancário entre homens foi de 1.331 postos, enquanto para as mulheres, foram eliminados 12.845 postos. Portanto, a cada um homem contratado no período, nove mulheres foram desligadas.

Nesse período, na área que teve mais contratação nos bancos, a de TI, ocorreram 19,9 mil admissões, porém, desse total 78% das vagas destinadas aos homens e o restante (22%) às mulheres.

Canais de combate ao assédio

A secretária da Mulher da Contraf-CUT e coordenadora da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), Fernanda Lopes, cobrou informações sobre a implementação das cláusulas conquistadas nas campanhas de 2020 e 2022, de prevenção e combate à violência doméstica e familiar e de combate ao assédio sexual.

“Queremos os números, saber quantas são e a forma como as mulheres vítimas foram atendidas, se foram acolhidas realmente, protegidas e não revitimizadas”, explicou Fernanda, apresentando, em seguida, os números dos canais “Basta! Não irão nos calar”, programa de assessoria jurídica humanizada a mulheres em situação de violência doméstica e familiar, de iniciativa do movimento sindical bancário.

“Atualmente temos 13 canais, com 449 mulheres já atendidas: desses total, foram geradas 235 medidas protetivas, com base na Lei Maria da Penha”, destacou.

Reivindicações

– Cumprimento da Lei da Igualdade Salarial entre homens e mulheres, especificamente no ponto sobre o Relatório de Transparência Salarial:

>Correção e adequação dos relatórios divulgados;
>Que divulguem os dados por empresa e não somente por estabelecimento (CNPJ);
>Que tragam o número absoluto de trabalhadores e trabalhadoras;
>E que os relatórios sejam compartilhados com os trabalhadores e com o Comando Nacional dos Bancários, para facilitar o acompanhamento.

– Realização do 4º Censo da Diversidade da categoria, o último foi divulgado em 2019.

Neste ponto, os trabalhadores lembraram que a realização do Censo da Diversidade é um compromisso firmado na CCT para ser realizado a cada cinco anos, período vencido.

– Olhar especial para as trabalhadoras e os trabalhadores transexuais, dada a vulnerabilidade social desse grupo, para que, além de terem acesso às vagas no setor, consigam permanecer e ascender na carreira.

“O Brasil lidera o ranking de países que mais matam pessoas trans no planeta, pelo 15º ano consecutivo”, destacou a secretária da Juventude da Contraf-CUT e militante LGBTQIA+, Bianca Garbelini, com base em dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), ressaltando que isso é fruto de um forte preconceito que leva essa população a ter uma expectativa média de vida de 35 anos no país, e também a terem piores condições de educação, saúde e trabalho.

“Mesmo quando acessam o emprego bancário, por causa do preconceito, muitos não conseguem prosseguir e outros não conseguem permanecer na carreira. Por isso, temos que conscientizar os demais trabalhares e trabalhadoras no setor”, completou.

“Dentro da pauta para os trabalhadores LGBTQIA+ nós destacamos a questão da população trans, por causa da sua grande vulnerabilidade, cobrando cota de acesso, políticas de formação e capacitação”, reforçou Juvandia Moreira.

Um dos exemplos bem sucedidos no setor, que foi destacado pelos trabalhadores, é o caso do Banrisul, que abriu um concurso público com cota de 1% para a população trans, e teve esse percentual superado no processo seletivo. Existe ainda um ordamento para que órgãos do governo federal tenham reserva de vagas em concursos públicos para transexuais e indígenas.

– Adesão de todos os bancos ao Programa Empresa Cidadã, para que todos pratiquem a licença maternidade de 180 dias e paternidade de 20 dias.

“Também pontuamos que as mulheres tenham a garantia de que não terão nenhum prejuízo em suas carreiras, no retorno da licença maternidade”, destacou Juvandia.

– Programas de promoção de acesso à ascensão de negros e negras, além de igualdade salarial para toda a categoria.

– Programas de promoção para acesso e permanência de mulheres nas áreas de TI.

– Balanço, por bancos, sobre a implementação e realização dos programas de combate ao assédio e de violência doméstica.

“Como resultado desta mesa, os representantes dos bancos indicaram o compromisso de buscar soluções para esses problemas. Vão se reunir com as empresas para trazer propostas que respondam as reivindicações da categoria”, destacou Juvandia.

Calendário

Julho
18 e 25/07 – Saúde e condições de trabalho: incluindo discussões sobre pessoas com deficiência (PCDs), neurodivergentes e combate aos programas de metas abusivas

Agosto
6 e 13/08 – Cláusulas econômicas
20/08 – Em definição
27/08 – Em definição

Fonte: Fetraf RJ/ES