- Fórum discutiu impacto da pandemia nos países e efeitos do teletrabalho
- Participaram representantes de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe
- Pandemia afeta bancári@s em três continentes
- Nova coordenação do fórum foi escolhida nesta quinta-feira
Terminou nesta quinta-feira (30) o 3º Fórum da rede de sindicatos UNI Finanças da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O encontro discutiu a digitalização bancária, teletrabalho, futuro do trabalho na categoria e estratégia para o período pós-pandemia. O fórum reuniu representantes da Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Realizado por videoconferência, também elegeu a nova coordenação da UNI para os países de fala portuguesa.
O encontro avaliou a necessidade de as entidades sindicais bancárias da CPLP estreitarem relações diante do agravamento da crise sanitária e econômica mundial. Decidiu-se que as reuniões desse fórum serão mais frequentes.
“Estou vendo o impacto da pandemia na África. As pessoas já estão querendo voltar para os escritórios. Essa questão não é apenas africana, mas sim de todos”, afirmou a diretora regional da UNI Finanças África, Lebogang Keabetswe. Felipe Makengo, do Sindicato dos Bancários de Angola, deu um panorama da situação em seu país. “Angola vive uma crise economia desde o segundo semestre de 2014. Com o surgimento da pandemia e a queda do preço do petróleo, vivemos uma situação com perda de empregos e postos de trabalho. Até ontem, havia 48 casos de óbito em Angola. A introdução do teletrabalho tem criado dificuldades. Trabalhar em casa não é a mesma coisa que trabalhar no local de trabalho. Em Angola, temos bancos públicos com problemas. Um vai ser privatizado e outro, que tem 4 mil funcionários, anunciou a dispensa de 1.600 trabalhadores”, falou Makengo.
Brasil
Gustavo Tabatinga, secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), falou sobre a situação da categoria no Brasil. “A gente entrou nesse período de pandemia com um pouco de surpresa porque o governo não divulgou as informações no tempo correto e incentivou que as pessoas fossem contaminadas pelo vírus. Os trabalhadores bancários se viram em uma situação emergencial e deveriam continuar atendendo ao público todos os dias de forma normal. Negociamos diversos acordos para minimizar os impactos da pandemia e colocamos quase 300 mil bancários em teletrabalho”. Gustavo também denunciou o Banco Santander, que, no Brasil, descumpriu o acordo firmado e demitiu trabalhadores durante o período da pandemia.
Quem também relatou a situação brasileira foi o secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, que lembrou que o Brasil já acumula 90 mil mortes por causa da pandemia. “Tivemos 30 bancários mortos pela doença, entre eles, três dirigentes sindicais”, disse.
Anibal Borges, do Sindicato dos Bancários do Cabo Verde, explicou que seu país tem o turismo como base da economia. “Daí dá para fazer ideia de como está sendo o impacto na economia caboverdiana”, disse. Mais de 60% da categoria bancária foram para o teletrabalho e outro impacto foi o corte de metade dos salários diante das dificuldades econômicas. “O próprio setor empresarial está deixando de pagar essa parte restante dos salários por causa da crise econômica, revelou Anibal Borges.
Ramiro Zeca Simbe, diretor do Sindicato dos Bancários de Moçambique, falou sobre a situação no país. “O setor financeiro está em pleno movimento em nosso país. Mas temos muitos colegas que estão trabalhando de casa. Temos cinco colegas infectados, alguns em vias de recuperação”.
Fernando Trovoada, do Sindicato dos Bancários de São Tomé e Príncipe, contou como foi o impacto da pandemia em seu país, um arquipélago de 10 ilhas no Oceano Atlântico. “Somos um sindicato pequeno, com 400 associados. Com a pandemia, tivemos que trabalhar em períodos revezados, para não haver aglomeração. Por agora, as regras obrigatórias, como o uso de máscara, deixaram a população farta. Fartos com o confinamento, porque os africanos gostam de festas e quando o governo impõe regras, ficam fartos”.
As negociações também foram afetadas pelo isolamento social e exigiram inovações por parte dos sindicatos. Mário Mourão, do Sindicato do Norte de Portugal, falou sobre as mudanças que adotaram. “Mantemos contatos próximos em reuniões de videoconferência, para acompanhar como os bancos iriam cumprir as regras de combate à pandemia. Notamos algumas dificuldades em algumas agências para que as medidas de prevenção à Covid-19 chegassem o mais rapidamente possível”, afirmou. Fernando Pereira, do Sindicato dos Bancários do Centro de Portugal, falou na mesma linha. “O sindicato teve que se modernizar. Conseguimos a parceria com os sindicatos de bancários do Sul e do Norte em negociação coletiva para garantir os empregos”, relatou.
Mulheres
Guillermo Mateo, diretor regional da UNI Finanças América, destacou a situação das mulheres durante a pandemia. “Nossa responsabilidade é tornar visível a situação de violência e vulnerabilidade que as trabalhadoras sofrem durante a Covid-19. As mulheres são as maiores vítimas de um modelo machista que temos de combater. assumimos esse compromisso”, afirmou.
Ao final do encontro, foi escolhida a nova coordenação da Uni Finanças para a CPLO. O novo coordenador é o Aníbal Borges, de Cabo Verde, e o coordenador-adjunto, Ramiro Zeca Simbe, de Moçambique.
Declaração
Também foi aprovada uma declaração do fórum, cuja íntegra segue abaixo:
Queremos um mundo melhor pós pandemia!
Vivemos num mundo atingido por fenômenos que modificaram radicalmente e rapidamente as relações de trabalho, os direitos humanos e a vida dos trabalhadores e trabalhadoras.
A concentração de riquezas, o avanço tecnológico, a redução de direitos laborais, o desemprego estrutural e a exclusão das camadas mais pobres vêm criando uma distância muito grande entre as elites econômicas e o resto da população mundial.
A sociedade do emprego formal está declinando e no seu lugar surgem e imperam os serviços de plataformas e aplicativos.
O capitalismo ultraliberal, que desde a segunda metade do século passado cresceu alardeando o fim da intervenção do Estado na economia planetária, construiu lentamente as premissas para este modelo de sociedade excludente e exploradora.
Em nome da liberdade, os teóricos liberais afirmaram que tudo deve ser entregue à iniciativa privada: a água, a saúde, os recursos minerais, o meio ambiente, a educação, os transportes, a energia, as comunicações, o crédito para o desenvolvimento, pois, segundo eles, tudo é mercadoria. E diziam que quem iria ordenar as relações entre a oferta de bens e serviços e os consumidores seria a mão invisível do mercado. Quanto menos Estado, mais o país será rico e poderoso. Muitos acreditaram nestas narrativas.
Muitas leis foram aprovadas nos países para privatizar as empresas públicas e transferir o património do povo para uns poucos. Outras leis foram aprovadas para reduzir direitos dos trabalhadores supostamente para facilitar contratações e melhorar a concorrência entre empresas, mas que na verdade funcionaram para gerar um estoque barato de mão de obra.
Estruturaram ataques às organizações sociais e aos sindicatos para enfraquecer as resistências e a oposição aos projetos das elites.
Paralelamente a isso, uma grande guerra de realinhamento comercial mundial entrou no cenário, principalmente entre os Estados Unidos e a China, revitalizando as instabilidades políticas, econômicas e sociais nos países democraticamente mais frágeis.
Uma nova era neoliberal e de intolerância ressurgiu se impondo pela força e pela propaganda, trazendo de volta a sombra dos movimentos ultradireitistas fascistas e do militarismo.
A crise mundial COVID19 mostrou os engodos e as mentiras deste modelo de mundo desigual que a sociedade mundial vinha reproduzindo.
Sem o atendimento feito pelos Estados nacionais na pandemia, as pessoas teriam sido destruídas pelo vírus, pela fome e pela miséria.
Países fortemente liberais tiveram que dobrar-se e oferecer ajuda tanto para conter a pandemia quanto para evitar um desastre econômico e social causados pelo necessário isolamento social e desativação do comércio, indústria e serviços, bloqueando acesso a salários e rendas pelas famílias.
AS máscaras caíram e o mundo viu claramente que não são máquinas, insumos ou capital que produzem bens e serviços. São os trabalhadores. Isso foi importante para que se reflita sobre o mundo que virá.
O mundo que esperamos reconstruir após esta pandemia não poderá ser como era antes: desigual e sem esperanças.
Não queremos voltar a uma normalidade que explora os trabalhadores e trabalhadoras.
Queremos oferecer um mundo melhor às gerações futuras.
Vivemos uma rara oportunidade para elevar a qualidade de vida mundial erradicando a miséria, a fome, a exploração e o desemprego
Precisamos um mundo que tenha bancos públicos que ofereçam políticas anticíclicas para a sociedade prosperar.
E de bancos privados com responsabilidade social e respeito pelos nossos países.
Permaneceremos coerentes com os compromissos e objetivos que nortearam nossa organização desde o primeiro Fórum em Luanda, Angola.
Reafirmamos a necessidade de dar continuidade aos temas discutidos em São Paulo, Brasil no nosso 2º Fórum pertinentes à Comunicação, Informação, Formação e funcionamento da nossa estrutura.
O 3º Fórum se solidariza e homenageia a todos os trabalhadores e trabalhadoras que estiveram e ainda estão na linha de frente de apoio às populações atingidas pela pandemia – com destaque aos das áreas da saúde – e principalmente saúda aos trabalhadores e trabalhadoras bancárias pelos quais temos envidado esforços sindicais de defesa dos empregos, salários e direitos, pela sua coragem em não deixar faltar o essencial serviço bancário de apoio às economias.
O 3º Fórum lamenta as mortes de trabalhadores e trabalhadoras de todos os países na crise COVID19 e se solidariza com as suas famílias.
Por eles e por todos nós, continuaremos caminhando em direção à construção de um mundo fraterno, igualitário e justo.
Só a luta nos garante!
Uni Finanças
Uni FinançasAméricas
Uni Finanças África
Uni Finanças Europa
Angola – Sindicato Nacional dos Empregados Bancários de Angola – SNEBA
Brasil – Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro – CONTRAF CUT
Cabo Verde – Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Financeiras – STIF
Moçambique – Sindicato Nacional dos Empregados Bancários – SNEB
Portugal – Sindicato dos Bancários do Centro – SBC
Portugal – Sindicato dos Bancários do Norte – SBN
Portugal – Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas – SBSI
São Tomé e Príncipe – Sindicato dos Trabalhadores Bancários e Parabancários de São Tomé e Príncipe – STBPSTP
Fonte: Contraf-CUT