Matéria publicada pelo jornal O Globo, nesta terça-feira (3), revela que o ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua equipe estudam a privatização do Banco do Brasil. A justificativa é que a venda do banco público serviria para baratear e diversificar o acesso ao crédito no país, ampliando a concorrência.
A avaliação do secretário de Assuntos Jurídicos do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, João Fukunaga, também coordenador da Comissão de Funcionários do BB, é de que esse processo agravaria ainda mais a concentração do setor bancário, com prejuízo para políticas de financiamento do crédito agrícola e imobiliário, por exemplo.
“Guedes e sua equipe falam uma coisa, mas sabem que, na prática, a realidade é outra. É impossível, com a destruição de um banco público, haver o barateamento das tarifas e das taxas para concessão de créditos”, afirmou o coordenador, que defende a importância do Banco do Brasil, a maior instituição financeira pública do país, e o segundo no ranking dos maiores bancos, ficando atrás apenas do Itaú Unibanco. O próprio presidente do BB, Rubens Novaes, chegou a afirmar, em março, que a privatização do banco seria “inevitável“.
“O BB sempre foi o indutor de crédito para a agricultura familiar, respondendo por cerca de 70% desse financiamento. Os bancos privados nunca foram impedidos de atuar nesse setor. Não atuam porque não querem, exatamente, por serem taxas de juros menores, com previsões de ganho de longo prazo. Ter banco público é ter uma política de desenvolvimento e de soberania”, diz Fukunaga. BB, Caixa Federal e Petrobras, segundo ele, são “joias da coroa”, e devem ser alvo da sanha privatista do atual governo.
Segundo a conselheira de Administração Representante dos Funcionários (Caref) do Banco do Brasil, Débora Fonseca, a eventual privatização “simplesmente inviabilizaria a agricultura familiar” no país, o que acarretaria no aumento de custos da produção, com impactos diretos no preço dos alimentos para o consumidor final.
“Quem paga é a população que acaba arcando com a comida mais cara na mesa. E se isso já é grave o suficiente, ainda temos outras situações envolvidas. Tem diversas cidades brasileiras que são inteiramente dependentes da atividade rural. E a atividade rural é uma cadeia complexa que envolve não só a produção, mas o transporte, a infraestrutura do país”, afirmou. Ela também destaca a atuação do BB no financiamento de projetos de implantação de infraestrutura de transporte, de saneamento, e serviços essenciais para a população”, afirma.
Débora e Fukunaga ressaltam que os bancos públicos foram os principais responsáveis pela ampliação da bancarização do país, com agências nas localidades em que as instituições privadas não chegam e com a abertura de contas para a população de baixa renda, e que a venda ao setor privado trará como consequências o desemprego e a desorganização do setor bancário. “Hoje, mais de 2 mil municípios ainda não têm nenhuma agência bancária”, destacou a conselheira. “Mais de mil possuem apenas uma agência de único banco. Nessas cidades, a metade das agências é do Banco do Brasil.”
Além de oferecer crédito a juros baixos para agricultores e população de baixa renda, os bancos públicos distribuíram R$ 203 bilhões em dividendos à União, entre 2002 e 2016, de acordo com o Dieese. Esses números também derrubam o argumento de que essas instituições públicas necessitariam ser privatizadas por conta de eventuais prejuízos que acarretariam aos contribuintes.
“Não podemos aceitar nenhum tipo de ataque, nenhum tipo de tentativa de acabar com os bancos públicos. Cabe a todos nós, não apenas funcionários, familiares ou nós como representantes, nós como cidadãos, nós como sociedade temos que fazer essa luta de defesa das empresas públicas. Temos que ser resistência, defensores desse patrimônio da população”, afirma Débora.
Concentração
O coordenador da Comissão de Funcionários do BB também lembra dos desdobramentos do processo de privatização dos bancos públicos estaduais durante a década de 1990, quando bancos estrangeiros chegaram ao Brasil, mas logo venderam suas operações para as instituições financeiras nacionais que formam o “cartel” que controla o setor – Itaú Unibanco, Bradesco e Santander. Na mesma época, concorrentes nacionais também faliram ou foram incorporados pelos grandes. Hoje, os cinco maiores bancos do país – os três grandes privados e os dois públicos – controlam 86% dos ativos dos financeiros. Em 1995, esses mesmos bancos controlavam 56% dos ativos.
“Uma série de bancos nacionais faliu – Banco Nacional, Marka, Fonte Cindam. Os internacionais acabaram vendendo suas participações. O Citibank vendeu suas operações para o Itaú. O HSBC vendeu para o Bradesco.” Segundo o sindicalista, as fintechs – instituições financeiras digitais – têm sido alvo de políticas agressivas de aquisição por parte dos grandes bancos tradicionais, como forma de “sufocar” a concorrência, auxiliados pelo Banco Central, que estabelece regulações que restringem a atuação das novas instituições.
Fonte: Rede Brasil Atual