Em reunião ampliada da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander, realizada na manhã desta quinta-feira (8), no auditório da Contraf-CUT, com a participação de cerca de 80 dirigentes sindicais de todo o país, foi indicada a realização de uma jornada nacional de luta contra as demissões do Santander. O banco espanhol eliminou 970 postos de trabalho nos três primeiros meses do ano. Com isso, o banco fechou 4.833 vagas nos últimos 12 meses, o que representa uma queda de 9,0% no quadro de funcionários.
A proposta é fazer a jornada de 12 a 23 de maio com diversas atividades de mobilização, buscando o apoio dos clientes e da sociedade, com a finalidade de pressionar o Santander a parar as dispensas e forçar o banco a contratar mais bancários, a fim de proteger e ampliar empregos, melhorar as condições de trabalho e garantir atendimento de qualidade.
“Os bancários que não foram demitidos estão trabalhando no limite, sobrecarregados de serviços, cobrados por metas abusivas, submetidos a assédio moral, expostos à insegurança e com muitos adoecimentos, o que é um desrespeito à saúde e à dignidade do trabalhador”, critica o secretário de imprensa da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr.
“Esse temendo descaso com os funcionários ajuda a explicar porque o Santander lidera desde janeiro deste ano o ranking de reclamações de clientes no Banco Central, após ficar em primeiro lugar durante oito meses de 2013″, aponta o presidente da Afubesp, Camilo Fernandes, que pediu um minuto de silêncio em memória do vice-presidente e companheiro José Reinaldo Martins, falecido aos 54 anos, no último dia 25 de abril, em Rio Claro (SP).
Encolhimento e elitização
Na reunião, a economista do Dieese, Catia Uehara, fez uma apresentação com a análise do balanço do primeiro trimestre de 2014. O lucro foi de R$ 1,428 bilhão, uma redução de 6% em relação ao mesmo período de 2013. O banco fechou 58 agências, ampliando o número de unidades extintas para 150 agências nos últimos 12 meses. Também fechamento de PABs, caixas eletrônicos e correspondentes (Aimoré e Santander).
Com essa redução do lucro e dos pontos de atendimento, caiu também a participação do Brasil no lucro mundial do Santander. O percentual, que já alcançou 26%, baixou para 20% no primeiro trimestre. Houve também uma pequena recuperação na participação da Espanha, Portugal, Reino Unido e Estados Unidos.
A economista observou também que, se há um encolhimento nos pontos de atendimento, o Santander tem procurado investir mais em grandes empresas. Não é à toa que o banco tem inaugurado também agências “Select” em todo o país, visando atender o segmento de alta renda. “Esse modelo afasta cada vez o banco dos principais concorrentes, trazendo dúvidas e insegurança para funcionários e clientes”, alerta Ademir.
Milhões para um punhado de executivos
Os dirigentes sindicais protestaram contra o aumento de 48,3% em 2014 na remuneração global dos 46 integrantes da diretoria executiva do Santander Brasil, conforme proposta aprovada em assembleia dos acionistas, realizada no dia 30 de abril. Com isso, segundo cálculos do Dieese, cada um deles ganhará média de R$ 5,7 milhões por ano, considerando salários, bônus e participação nos resultados.
“Nada justifica a enorme sangria de empregos e as péssimas condições de trabalho no banco, enquanto os altos executivos continuam abocanhando salários e bônus milionários”, critica Ademir, que leu e protocolou voto contrário na assembleia, enquanto acionista minoritário.
Reunião com a diretoria de RH do Santander
Os dirigentes sindicais se reuniram na tarde desta quinta-feira com a diretora de Recursos Humanos do Santander, Vanessa Lobato, no Sindicato dos Bancários de São Paulo. Ela assumiu o cargo no final do ano passado, anunciou a saída no dia 30 de abril do superintendente de Relações Sindicais, Luiz Cláudio Xavier, e ouviu as demandas dos representantes dos bancários.
Uma série de problemas dos funcionários foi apontada para Vanessa, como demissões injustificáveis, falta de funcionários, assédio moral e sexual, aumento e cobrança de metas abusivas, pressões e terrorismo de regionais, teleconferências assediadoras, desânimo, falta de motivação, não valorização, metas e redução de caixas, sistema fora do ar, doenças mentais e síndrome do pânico, tentativas de suicídio, assaltos a agências e postos, sobrecarga de trabalho, reclamações de clientes, corte de ônibus fretados, redução de empregados da limpeza, abertura de agências com greve de vigilantes, e retirada de bebedouros para economizar água, dentre outros.
“Essa economia burra que o banco está fazendo não traz resultados e prejudica os funcionários e os clientes”, alertou a coordenadora da COE do Santander, Maria Rosani.
Ademir reafirmou os pedidos de informações feitos na assembleia e ainda não respondidos sobre o número de contratações e desligamentos de funcionários em 2013, o detalhamento do pagamento da PLR e a explicação sobre a tabela de duração dos planos de previdência complementar patrocinados pelo Santander.
Vanessa não trouxe novidades, nem mesmo apresentou um calendário de retomada de negociações do Comitê de Relações Trabalhistas (CRT), do Fórum de Saúde e Condições de Trabalho e do Grupo de Trabalho do SantanderPrevi. Ela se limitou a defender conceitos. “Me dói ouvir que o funcionário não está sendo respeitado”, disse. “Queremos ter boas agências, bom atendimento e funcionários engajados”, salientou. “Tem gestor despreparado”, reconheceu. “Não queremos conviver com a falta de respeito”.
Para Ademir, a reunião possibilitou ao movimento sindical mostrar para a diretora de RH a vida como ela é na rede de agências e nos departamentos do banco. “Esperamos agora retomar as negociações e discutir mudanças na gestão do banco e soluções para preservar o emprego, a saúde e a segurança dos bancários, bem como melhorar o atendimento dos clientes e da população”, conclui.
Fonte: Contraf-CUT