Trabalhadores do Banco do Brasil divulgam nesta semana o manifesto em “defesa da democracia, respeito à Constituição e à escolha soberana do povo brasileiro nas eleições de outubro”. A publicação do documento ocorre após Fausto Ribeiro, presidente do banco, criticar publicamente a adesão da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) à carta “Em Defesa da Democracia e da Justiça”. “Nossa posição segue de neutralidade”, disse Ribeiro a jornalistas. “Entendemos que a Febraban não deve se manifestar sobre política”, completou.
“A defesa da democracia e do BB público foram temas aprovados no 33º Congresso dos Funcionários do Banco do Brasil, realizado em junho. A partir disso nós criamos o Comitê de Luta em defesa do BB. E o manifesto faz parte desse trabalho”, explicou o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João Fukunaga.
Para ele, a decisão do presidente do BB em não aderir a uma carta pela democracia “traz o debate político para dentro” da entidade, completando que diversas organizações da sociedade civil aderiram ao manifesto sem, em nenhum momento, defender partidos ou candidatos.
“A decisão de Fausto Ribeiro, sob o manto da ‘neutralidade’, de não aderir ao manifesto seria por que o atual presidente da República também se recusou a aderir? Vale a pena ele trocar a democracia e o Estado de Direito por um cargo? Muitos na ditadura fizeram isso para se manter em cargos públicos. Ver isso se repetindo hoje levanta preocupações sobre interferências políticas no BB”, avaliou.
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Um BB público
“Nos últimos anos, o Banco do Brasil vem se assemelhando cada vez mais a um banco de mercado, com ameaças de privatizações feitas pelo próprio ministro da Economia. Isso significa deixar de atender milhares de brasileiros para priorizar os clientes com patamar social mais elevado”, destacou Fukunaga.
“A sociedade precisa ser alertada de que sem os bancos públicos o crédito para o microempreendedor, para o pequeno negócio e para a agricultura familiar ficaria mais caro e isso impactaria negativamente no preço dos alimentos e na saúde do setor produtivo do país”, explicou José Ricardo Sasseron, coordenador do Comitê de Luta em Defesa do Banco do Brasil Público, iniciativa dos funcionários do BB.
Em 2021, o Banco do Brasil foi submetido a dois programas de reestruturação que resultaram na demissão de milhares de funcionários e no fechamento de centenas de agências. “A carta dos trabalhadores do banco, em apoio à democracia, toca nesta questão, porque democracia também significa fortalecer as empresas públicas como instrumentos que auxiliam na construção e manutenção do Estado Democrático de Direito. No caso específico do BB, para que a entidade cumpra seu papel de financiar a recuperação da economia e na geração de emprego”, completou.
Ele lembrou ainda que, na crise mundial de 2008, os bancos públicos foram utilizados para manter o crescimento interno do país, apesar do cenário externo: “Naquele momento, enquanto os bancos privados suspendiam e aumentavam os juros nas linhas de crédito, o BB, ao lado de outros bancos públicos, manteve juros menores e, dessa forma, ajudou a dar fôlego à economia”.
A seguir, a carta dos trabalhadores do BB:
Funcionários do Banco do Brasil pela democracia
Nós, funcionários do BB, representados no 33º Congresso dos Funcionários do Banco do Brasil, aprovamos a defesa da democracia, o respeito à Constituição e à escolha soberana do povo brasileiro nas eleições de outubro.
Enquanto alguns preferem atacar as urnas eletrônicas e desacatar a vontade majoritária da população e outros preferem subir no muro da neutralidade, nós percorremos o caminho da ordem democrática.
O autoritarismo é a face de um passado que não pode voltar, que violou direitos humanos e aprofundou a miséria no país. Não se esquecer da História é a chave para que a violência de Estado não se repita.
Vamos lembrar que em julho de 1983 o então governo autoritário determinou intervenção em vários sindicatos, entre eles o dos bancários de São Paulo. Colegas foram cassados e perseguidos. A intervenção acabou somente após sucessivos atos de protestos que sensibilizaram a sociedade. Uma data emblemática desse processo de luta pela democracia é o 10 de setembro de 1985, quando os trabalhadores bancários realizaram a maior greve da história da categoria no Brasil e a primeira pós-1964, dando o estopim para as Diretas Já.
Hoje, 2022, vivemos um momento dramático da vida nacional em que não podemos permitir retrocessos autoritários e a volta a um passado de violência política que causou tantos prejuízos à sociedade brasileira. Quem ataca a democracia quer manter seus privilégios e impedir que a maioria tenha acesso aos direitos básicos de cidadania.
A convivência democrática é fundamental para que os trabalhadores e as parcelas menos favorecidas da sociedade brasileira coloquem na ordem do dia as suas pautas essenciais: o combate à fome e à miséria; a luta por justiça social e pela redução das desigualdades; a melhoria nos salários; a recuperação de direitos trabalhistas e previdenciários; o respeito à diversidade; a reconstrução de um sistema de saúde universal e de qualidade; o acesso às escolas e universidades; o direito à moradia e aos serviços públicos essenciais.
Democracia também significa o fortalecimento das empresas públicas, o respeito e valorização de seus funcionários para que empresas, como o Banco do Brasil, cumpram o seu papel de financiar a recuperação da economia e a geração de empregos de qualidade para amplos setores da população brasileira.
Pelo respeito à vontade do povo, Estado Democrático de Direito sempre.
33° Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil
“BB público sim, BB mais social sempre!”
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