O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), “vestiu a carapuça” do golpismo do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra a democracia e o processo eleitoral. Pelo Twitter, ele atacou nesta terça-feira (26) banqueiros que assinaram um manifesto em defesa da democracia. O documento que causou a ira do ministro é a nova edição da Carta aos Brasileiros, que tem a sua leitura pública prevista para o próximo dia 11 em evento na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Assinam o manifesto expoentes das finanças nacionais, como Roberto Setubal e Pedro Moreira (co-presidentes do Itaú Unibanco). Além destes, Candido Bracher, ex-presidente do Itaú Unibanco, e Fábio Barbosa, CEO da Natura e ex-presidente do Santander, estão entre os signatários.
A nova edição da Carta aos Brasileiros não cita nomes, mas critica “ataques infundados e desacompanhados de provas” em relação ao processo eleitoral, à democracia e ao Estado de direito “tão duramente conquistado pela sociedade brasileira”. E considera “intoleráveis” as ameaças a outros poderes e a setores da sociedade, além da “incitação da violência e a ruptura da ordem constitucional”.
“Presidente Bolsonaro, sabe porque os banqueiros hoje podem assinar cartas inclusive contra o presidente da República, ao invés de se calarem com medo nos congelamentos de câmbio do passado?”, publicou o ministro, apresentando frágeis argumentos para a perda de apoio de integrantes da elite financeira do país. Mais importante, ele deixa transparecer que as ameaças à ruptura da ordem democrática atendem pelo nome de Jair Bolsonaro.
Bancos lucram como nunca
Para justificar o participação dos banqueiros em manifesto “contra o presidente”, Ciro usa o argumento de que as instituições bancárias perderam até R$ 40 bilhões em tarifas, por conta da criação do Pix. “Então, presidente, se o senhor faz alguém perder 40 bilhões por ano para beneficiar os brasileiros, não surpreende que o prejudicado assine manifesto contra o senhor”, escreveu, fazendo referência à modalidade de transferência bancária que não tem cobrança de tarifas.
Porém, Ciro ou comete um erro histórico, ou apenas busca confundir a opinião pública. Ele atribui o Pix ao Banco Central (BC), que antes seria “obediente” aos governos da vez. Já o governo Bolsonaro tornou o BC “independente”. Mas o fato é que a modalidade foi gestada quando Ilan Goldfajn estava à frente do BC, durante o governo de Michel Temer. Os bancos só passaram a adotá-la em definitivo em novembro de 2020.
Além disso, os três maiores bancos privados do Brasil registraram R$ 69,4 bilhões de lucro no ano passado, durante o auge da pandemia no país. Mesmo com PIX sem tarifa, seus lucros cresceram 30% em relação a 2020. As receitas cresceram, inclusive, em função da elevação dos juros e das tarifas bancárias.
Por outro lado, com a “independência” do Banco Central, a autoridade monetária ficou ainda mais atrelada aos interesses do sistema financeiro privado. Desde maio de 2021, o BC aumentou a taxa básica de juros 11 vezes consecutivas, por exemplo.
Atualmente, a taxa Selic está em 13,25% ao ano, maior nível desde o final de 2016, garantindo lucros excepcionais ao sistema financeiro. A desculpa é o combate à inflação, mas como a alta dos preços não tem a ver com a demanda, esse suposto remédio acaba virando um veneno, pois deprime ainda mais a atividade econômica.
Só os juros cobrados das pessoas físicas nas operações com o cartão de crédito chegaram a 349,6% ao ano ao final de 2021, alta de 21,8 pontos percentuais em doze meses – o maior patamar desde agosto de 2017. Nesse sentido, os números contrariam o argumento do ministro, de que os banqueiros estariam agindo por ressentimento, em defesa dos seus próprios interesses.
Fonte: Rede Brasil Atual