Novembro 25, 2024
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Como o aumento no preço dos combustíveis impacta o custo de vida dos brasileiros

Quando a quinzena é boa para José Wathynson, ele tira cerca de R$ 1.500 como entregador de aplicativo. Essa poderia até ser uma boa média salarial, não fossem os gastos com gasolina, que nos últimos meses tem pesado no bolso do motoboy. “Você tem que trabalhar mais horas agora, né? Por que já que a gente é motoboy num tem salário fixo. Se trabalhar tem dinheiro, se não trabalhar não tem. Quando eu tinha que pagar minhas contas, normal, a gente trabalhava entre 7, 8 horas. Agora tem que trabalhar 10, 11 horas por dia só pra pagar as contas”, lamenta Wathynson. 

Já Francisco Alexandre Santos utiliza a moto como meio de transporte para se deslocar de casa até o condomínio onde trabalha como porteiro. Ele também tem sentido significativamente a escalada de preços dos combustíveis. “É triste, antes quando eu abastecia totalmente o tanque, eu botava R$ 60 reais, com esse aumento absurdo agora vou chegar a pagar uns R$70/ 80 reais. Isso vai fazer falta no final do mês. Infelizmente tem que dar aquele jeitinho brasileiro, né? Tentar tirar de um e botar em outro. Sempre vai faltar algo daquilo que não poderia faltar, mas infelizmente vai ficar apertado”, explica Alexandre. (Continua após o vídeo.) 

Para as mudanças sucessivas na bomba, a explicação vem do aumento de preços nas refinarias, que trouxe um reajuste de 24, 9% no preço do óleo diesel, de 18,7% na gasolina, e de 16% no gás de cozinha. Com mudanças tão drásticas, só recorrendo aos especialistas para entender essa dinâmica. O economista Fábio Sobral explica o que está por trás de tantas altas de preços nos últimos anos: “Ela é provocada pela política de preços da Petrobras, ela dolarizou seus preços. Ela optou inclusive por se desfazer de certas partes da Petrobras, optou por entregar os lucros para os acionistas e não reinvestir no processo de refino, de distribuição do petróleo e do gás, ela se tornou então uma empresa predatória em relação ao mercado nacional”.

“A Petrobras sobe os combustíveis, os combustíveis são a base da matriz energética e do transporte de pessoas e cargas, então isso vai provocando uma reação em cadeia. Reduz o número de movimentações das pessoas, aumenta o preço dos fretes. Isso faz com que as pessoas gastem mais em combustíveis. Se elas gastam mais em combustível, elas deixam de gastar em outras áreas do consumo. Então o comércio sofre, o comércio sofrendo a indústria sofre, e isso vai em cadeia até o começo do processo produtivo”, explica Sobral. 

E nessa reação sofre principalmente a grande parcela da população que ganha menos, como é o caso da diarista Maria Martins, que praticamente não vê o a cor do dinheiro que recebe: “Esse aumento é um absurdo, porque eu não sei como é que o gás aumenta pelo salário todinho. Porque nem o salário subiu desse tanto, vai subir só no gás. Só que não vai subir só gás, vai subir tudo o que a gente for comprar, vai estar com um preço bem mais alto. E como é que a gente vai fazer com o salariozinho que não aumentou nada?”, questiona.

Ana Sheila dos Santos, que trabalha como serviços gerais em uma academia, também tem sofrido para equilibrar o orçamento doméstico: “a gente já não ganha o salário digno, né? O salário aumenta cem reais e o e o gás aumenta um absurdo. Fora as outras coisas como a comida, que é o mais caro e que a gente tem que comer todo dia. Um absurdo! Você chega no supermercado com R$ 100 e não traz nada. Então a gente corta outras coisas. Corta internet, que a gente tem que ter por conta dos filhos, pra estudar, mas vai cortando nas coisas que são menos necessárias pra poder equilibrar essas contas”. 

Guerra na Ucrânia influencia, mas o problema é anterior

A pandemia e a guerra na Ucrânia, até tem sua parcela de culpa na situação, mas o problema enfrentado hoje já vem de antes. É o que defende o Diretor do Sindpetro Ceará/Piauí, Fernandes Neto: “Em 2016, depois do golpe contra a presidenta Dilma, a política de preços da Petrobras foi alterada. Ela hoje utiliza o que a gente chama da PPI, é o Preço de Paridade Internacional. Ele leva em conta, e não deveria levar, a cotação do dólar - o nosso câmbio. Como a nossa moeda está muito desvalorizada em relação ao dólar, então já é o primeiro impacto. Mas leva em conta também o preço do barril de petróleo internacional, apesar da gente produzir o nosso petróleo aqui em real. Além disso, todos os custos de importação desses produtos. Então a Petrobras está tendo um lucro exorbitante em cima dos seus combustíveis, porque ela está cobrando um preço bem acima do que ela deveria estar cobrando, devido a toda essa política que vincula preço dos combustíveis ao mercado internacional”. 

Fonte: BdF Ceará