O Ministério da Saúde deverá informou hoje (27) que deve começar a vacinação infantil (5 a 11 anos) a partir de janeiro, mas não precisou a data. Limitou-se a dizer que a imunização depende também do término da consulta pública sobre o tema (clique aqui para participar), que termina no próximo dia 5.
“A recomendação do Ministério da Saúde é pela inclusão das crianças de 5 a 11 anos na Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO), conforme posicionamento oficial da pasta declarado em consulta pública no dia 23 de dezembro e reforçado pelo ministro da Saúde em manifestações públicas”, declarou a pasta, por meio de nota. “No dia 5 de janeiro, após ouvir a sociedade, a pasta formalizará sua decisão e, mantida a recomendação, a imunização desta faixa etária deve iniciar ainda em janeiro.”
A declaração do Ministério da Saúde ocorre em meio a pressões. Na véspera do Natal, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski deu cinco dias para o governo de Jair Bolsonaro explicar a exigência de prescrição médica para a vacinação infantil contra a covid-19. O ministro é o relator de ação movida por partidos de oposição, que pediram que o Supremo determinasse ao Ministério da Saúde a disponibilização, “de forma imediata e em consonância com as recomendações técnicas da Anvisa”, do imunizante para as crianças de 5 a 11 anos, “independentemente de prescrição médica ou de qualquer outro obstáculo imposto pelo governo ao direito à saúde e à vida”.
A ação foi protocolada no dia 23, logo que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que o governo federal requisitaria prescrição médica e assinatura de um termo de responsabilização dos pais. Não existem tais exigências em outros grupos que já tiveram a vacinação autorizada.
Vacinação infantil
No último dia 19, em solenidade na Caixa Econômica Federal, Bolsonaro chegou dizer que a imunização infantil é “coisa muito séria”, cogitando medidas como a exigência de apresentação de receita médica na hora da vacinação. “Criança é uma coisa muito séria. Não se sabe os possíveis efeitos adversos futuros”, disse Bolsonaro, em um tom que passou a ser seguido por Queiroga. O discurso, que passou a ser seguido à risca pelo ministro, tem o mesmo objetivo de atrapalhar a divulgação de calendários e atrasar o início da vacinação de adultos em meados de 2020, quando o presidente espalhou sua tese de que o vacinado poderia ser transformado em jacaré.
Ainda no âmbito da ação da oposição, a secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, Rosane Leite de Melo, enviou nota técnica ao ministro Lewandowski. No documento ela escreveu, entre outras coisas, que “antes de recomendar a vacinação da covid-19 para crianças, os cientistas realizaram testes clínicos com milhares de crianças e nenhuma preocupação séria de segurança foi identificada”. Destacando a segurança da vacina, a secretária se opôs ao discurso do presidente e do ministro Marcelo Queiroga, no caso, seu chefe.
Há pressão também dos governos estaduais. Pelo menos 17 estados e o Distrito Federal não vão exigir prescrição médica para vacinar as crianças: Acre, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina e Sergipe. Outros ainda não se manifestaram.
A dispensa da prescrição médica é uma orientação do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), assinada na véspera do Natal. No mesmo dia, a entidade que congrega os secretarios estaduais de saúde, divulgou carta aberta às crianças brasileiras.
A ciência vencerá
“Infelizmente há quem ache natural perder a vida de vocês, pequeninos, para o coronavírus. Mas com o Zé Gotinha já vencemos a poliomielite, o sarampo e mais de 20 doenças imunopreveníveis. Por isso, no lugar de dificultar, a gente procura facilitar a vacinação de todos os brasileirinhos. E é esse recado que queremos dar no dia de hoje, véspera de Natal: quando iniciarmos a vacinação de nossas crianças, avisem aos papais e às mamães: não será
necessário nenhum documento de médico recomendando que tomem a vacina. A ciência vencerá”, diz trecho da carta assinada pelo presidente do Conass, Carlos Lula, secretário no Maranhão.
Segundo dados do Censo 2010 do IBGE, existem aproximadamente 20 milhões de crianças com idade entre 5 e 11 anos no Brasil, . Até o dia 6 de dezembro passado, no sistema “e-SUS Notifica” foram registrados 565.913 casos de
Covid-19 e 286 óbitos pela doença nessa faixa etária, sendo o maior número de casos absolutos nas regiões Sul e Sudeste, e o maior número de óbitos nas regiões Nordeste e Sudeste, respectivamente. Até o início do mês, nos Estados Unidos, já foram aplicadas mais de 7.141.428 doses da vacina pediátrica da Pfizer em crianças da faixa etária, sendo que 5.126.642 como primeira dose e 2.014.786 como segunda. Dor, febre, dor de cabeça, vômitos e falta de apetite foram os principais efeitos colaterais.
Houve oito casos de miocardite (inflamação do músculo cardíaco) em mais de 7 milhões de doses aplicadas (dois casos após a primeira dose e 6 casos após a segunda), todos eles classificados como de evolução clínica favorável. Esses dados preliminares mostram, portanto, um risco substancialmente menor deste evento adverso comparado com o risco previamente observado em adolescentes e adultos jovens após a vacinação. Algumas perguntas permanecem sem respostas sobre a vacinação contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos, incluindo a duração da proteção e a necessidade de doses de reforço, especialmente por conta do menor risco dedoença grave nessa faixa etária.
O médico sanitarista Gonzalo Vecina voltou a reforçar a segurança da vacina infantil aprovada para crianças. O imunizante que já está sendo aplicado em crianças de 5 a 11 anos em 13 países, segundo ele, traz diferenças em relação àquele aplicado em adultos. “Há diferenças nas cores da embalagem, para evitar confusão na hora a aplicação. E o conteúdo de sua dose equivale a um terço da do adulto. Foi comprovado que não tem risco. Mais de 7 milhões de doses ja foram aplicadas em crianças nos Estados Unidos. E desse total, apenas 7 casos de miocardite, que é tratada com antiinflamatórios. Além disso, a chance de pegar miocardite é 40 vezes maior na presença da covid do que ao se tomar a vacina, que protege as pessoas, protege as crianças. Esse é o caminho”, disse.
Fonte: Rede Brasil Atual