O número de bancários desligados de seus empregos por morte chegou a 152 entre os meses de janeiro e março deste ano. Foram 50 óbitos por mês, em média, e um aumento de 176% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Para as entidades sindicais que representam os bancários, os números demonstram o efeito da pandemia de Covid-19 sobre os trabalhadores do setor e dão a dimensão da urgência da inclusão da categoria entre os grupos prioritários para a vacinação.
O assunto foi discutido nesta sexta-feira (11) com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em uma reunião fechada na sede da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), em São Paulo (SP).
Entre os representantes do setor financeiro estavam Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central e atual presidente do conselho de administração do Credite Suisse, Octavio de Lazari, presidente do Bradesco, Roberto Sallouti, presidente do BTG, José Berrenguer, presidente do banco XP, entre outros.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, acompanhou Queiroga ao encontro. Devido à reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) marcada para os dias 15 e 16 de junho, o titular do BC já estava no chamado período de silêncio e não fez projeções econômicas. Em uma breve fala defendeu a importância da vacinação para a retomada, mas também destacou o papel do crédito para a recuperação da economia no pós-Covid.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), representante da base do governo no Congresso, também participou do café da manhã como integrante da comitiva de Queiroga. Ela defendeu a necessidade de se recuperar o otimismo.
Do ministro Queiroga, bancários e banqueiros ouviram apenas que a decisão de antecipar a vacinação das categorias não cabe a ele, mas à equipe técnica do PNI (Programa Nacional de Imunizações). O número 1 da Saúde disse aos presentes que o pedido será encaminhado aos técnicos do ministério.
"Todas as recomendações para ampliar o acesso à vacina são justas. Elas têm que ser analisadas do ponto de vista técnico. Pedi isso às lideranças sindicais e da Febraban e vamos submeter à câmara técnica do programa nacional para que esse grupo possa ser incluído. Não é um ato discricionário do ministro", afirmou.
Um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ter dito que Queiroga preparava um parecer para dispensar pessoas vacinadas ou que já tenham sido contaminadas de usar máscaras, o ministro da Saúde defendeu o equipamento de proteção para representantes do setor financeiro -e defendeu também o presidente da República.
"É uma das recomendações para o controle do vírus, né? Na verdade, nós precisamos convencer a população brasileira acerca da importância das medidas não farmacológicas", disse durante o encontro, segundo relatos.
"Não só máscara, como também distanciamento, higienização das mãos, fazer um amplo programa de testagens para que possamos identificar os casos contaminados e seus contatos e essas pessoas ficarem isoladas. Permitir que haja a compatibilidade entre a assistência à saúde e a economia."
Segundo Queiroga, Bolsonaro solicitou um estudo sobre o assunto pois tem acompanhado o que vem acontecendo em outros países, onde, com a imunização mais avançada, o uso de máscara começa a ser flexibilizado.
"É preciso fazer uma revisão sistemática da literatura, para verificar o que há com relação a esse ponto. É preciso que acompanhemos através do nosso programa de testagens. É nesse sentido que o presidente se manifesta. Ele é um ótimo comunicador e tem essa capacidade de suscitar assuntos de interesse", afirmou. O ministro disse ainda que Bolsonaro com frequência demanda a pasta "acerca do estímulo às pesquisas."
"Às vezes, aquilo que parece uma negação, na realidade é uma homenagem à ciência", disse.
O ministro da Saúde também apresentou um breve balanço do andamento da vacinação. Falou ainda do plano de testagem em massa, por meio do qual o governo federal espera reduzir o tempo de diagnóstico e o período de transmissão do vírus por pessoas contaminadas.
O programa deve incluir, segundo disse o ministro na reunião, busca ativa em empresas e locais de grande circulação, como escolas e aeroportos, para identificar casos assintomáticos, testagem de casos suspeitos ou sintomáticos e coleta de amostras para monitorar a transmissão.
O plano de operacionalização da vacinação contra a Covid-19 prevê 29 grupos prioritários para a imunização, que somam 77,279 milhões de pessoas. Por enquadramento profissional, estão nesta lista trabalhadores da educação, do transporte coletivo, caminheiros, portuários e industriais, além de metroviários e ferroviários.
A Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) já vinha tentando uma reunião com o ministro da Saúde para pleitear o reconhecimento de prioridade, mas as tratativas não andaram. O pedido já tinha sido feito na gestão anterior, de Eduardo Pazuello.
O encontro desta sexta foi organizado pela federação dos bancos. Os representantes sindicais conseguiram falar com o ministro da Saúde antes da reunião com os banqueiros.
"Nunca deixamos de cobrar a vacinação para todos, mas queremos que o ministério olhe os critérios técnicos, de que os bancários estão morrendo, apesar de muitos estarem no trabalho remoto", diz Juvandia Moreira, presidente da Contraf-CUT.
O ofício entregue ao ministro traz um parecer médico apontando as agências bancárias como potenciais vetores de contaminação, devido à baixa renovação do ar. "Não tem ventilação, mas também não temos como cobrar portas abertas, pois isso reduz a segurança e expõe vigilantes e funcionários", afirma a representante da Contraf-CUT.
A antecipação da vacinação agrada às instituições financeiras.
Isaac Sidney, presidente da Febraban, disse ao ministro que os bancários estão na linha de frente do atendimento às populações mais vulneráveis, como no pagamento de benefícios assistenciais.
Segundo ele, as agências bancárias têm atendido de 11 a 12 milhões de pessoas por mês durante a pandemia. Antes da crise sanitária, os atendimentos chegavam a 35 milhões.
Em nota, a Febraban diz entender como oportuno o ingresso dos bancários na relação de trabalhadores a serem vacinados. "Eles estão, desde o início da pandemia, na linha de frente do atendimento ao cidadão, particularmente dos mais vulneráveis que não têm acesso aos serviços remotos", afirma.
Os números de desligamentos por mortes, computados pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) a partir de dados do novo Caged, não detalham a causa dos óbitos. Para os dirigentes sindicais, é possível deduzir que o avanço nas mortes tenha relação com a crise sanitária.
"Pudemos mostrar ao ministro que a categoria bancária se notabiliza pela grande exposição aos riscos de contágio nas agências e que já foram registrados inúmeros casos de adoecimento, de afastamento do trabalho, internações hospitalares e de óbitos na categoria", diz Ivone Silva, do sindicato paulista, em nota.
No ofício entregue ao ministro da Saúde, os bancários dizem que há, no dia a dia do trabalho, muita concentração de clientes em ambientes internos.
Muito do fluxo de clientes, dizem os sindicatos, vem de aposentados e pensionistas que buscam apoio no atendimento presencial e de clientes interessados em renegociação de dívidas ou fazer inscrição para programas de crédito.
"A característica física do ambiente de trabalho propicia a maior concentração do vírus e o evidente contágio e, devido aos necessários cuidados com a segurança, as agências bancárias são fechadas e não oferecem ventilação e nem circulação natural de ar", diz o ofício.
Fonte: Folha de São Paulo