Ampla gama de estudos econômicos realizados desde o início da pandemia de covid-19 no mundo desmascaram os problemas do capitalismo neoliberal e o agravamento da desigualdade social no mundo. O abismo entre classes é um dos principais temas do Fórum Social Mundial (FSM), desde sábado (23). Para Oded Grajew, idealizador do evento e presidente emérito do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, é urgente discutir um novo modelo econômico para o mundo pós-crise sanitária.
Realizado de maneira virtual, o FSM chega à sua 20º edição. Além das desigualdades de renda e seus recortes de raça e de gênero, o evento debate a defesa da democracia e a preservação do meio-ambiente. O Fórum ocorre até o próximo dia 31 e pode ser acompanhado em seu portal.
A Oxfam Brasil aponta que os mil maiores bilionários do mundo já conseguiram reaver as perdas financeiras provocadas na pandemia. Entretanto, os mais pobres, deverão levar pelo menos 14 anos para recuperar o nível de pobreza que tinham antes da covid. A entidade mostra também que as grandes corporações lucraram muito mais com a crise sanitária.
Oded Grajew afirma que o modelo econômico global se alimenta dessa desigualdade e deixa a população pobre cada vez mais vulnerável. “Diante da pandemia e sua escassez, os super-ricos detém a maior parte do poder político, então submete as decisões aos seus interesses, deixando seus recursos mais protegidos. A pandemia escancarou a enorme desigualdade do mundo, que tem suas raízes no modelo capitalista neoliberal, desconectada com os direitos humanos”, afirmou ao jornalista Gilberto Nascimento, na Rádio Brasil Atual.
Brasil no FSM21
Governado por Jair Bolsonaro, o Brasil vive um cenário inédito desde a criação do Fórum Social Mundial. Sob um governo autoritário, os brasileiros podem buscar mudanças para o país, no FSM, avalia Grajew.
Na avaliação do idealizador do Fórum, a conexão do Brasil ao autoritarismo também está ligada ao aumento da desigualdade social. “Nós menosprezamos, ao longo dos anos, a questão da desigualdade, que é responsável por originar regimes autoritários”, explicou Oded. Porém, ele acredita que a ficha da população está caindo. “Com 200 mil mortos e ameaças do presidente, estamos vendo uma mobilização social no sentido de reagir a essa situação do Brasil”, acrescentou.
Outra pauta que precisa ser debatida no evento, ao analisar o cenário brasileiro, é a volta do país ao Mapa da Fome, após o impeachment de Dilma Rousseff. “Demoramos muitos anos, foram várias ações e políticas públicas, para que o país saísse do Mapa da Fome. Somos um dos países mais ricos do mundo, o que deixa nossa desigualdade e nossa fome mais humilhante. Temos tantas riquezas, tantos recursos para alimentar nosso povo, que nos deixa mais triste”, criticou.
Fonte: Rede Brasil Atual