A temporada de juros baixos, que marcou o início do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, ficou mesmo no passado. Com a escalada da taxa básica Selic, iniciada em outubro de 2014, o crédito ficou mais caro e escasso.
Para piorar, temendo nova onda de desemprego, em razão da estagnação econômica, os bancos decidiram emprestar só para clientes com garantias de pagamento. Mesmo assim, os financiamentos aprovados pesam cada vez mais no bolso.
Dados levantados pelo jornal Correio Braziliense com base em estatísticas do Banco Central (BC) dão a dimensão da alta dos juros ao consumidor. De janeiro a dezembro de 2014, os seis maiores bancos do país elevaram as taxas, em média, em 64,2 pontos percentuais.
Não sem surpresa, o cheque especial foi a modalidade que mais encareceu. Em média, as taxas cobradas nessa linha saltaram de 157% anuais, no começo de 2014, para 216,11%, nos últimos dias de dezembro uma diferença de 59,03 pontos.
Os números sugerem que o Santander foi o banco que mais subiu juros em 2014. As taxas praticadas pelo conglomerado espanhol subiram 89,16 pontos percentuais em um ano. Só no cheque especial, os juros saltaram de 233,4% para 322% anuais uma diferença de 89,16 pontos. Foram consideradas as operações realizadas na primeira semana de janeiro e no período de 15 a 19 de dezembro.
Em segundo lugar vem o HSBC. O banco inglês elevou em 74,91 pontos os juros nas quatro linhas pesquisadas. A taxa do cheque especial subiu de 209%, em janeiro, para 296,5%, em dezembro, alta de 87,5 pontos.
Em nota, o Santander informou que os reajustes das taxas das linhas pesquisadas foram realizados conforme as condições do mercado e, de acordo com os dados disponibilizados pelo Banco Central, não registraram as maiores variações percentuais do setor em 2014. A amplitude da variação na taxa do cheque especial, em pontos percentuais, é explicada pelas características diferenciadas oferecidas aos usuários do Santander Master, que a cada mês contam com 10 dias de isenção de juros, que somente são cobrados caso esse prazo seja excedido, acrescentou o texto.
No ranking geral das taxas, aparece em terceiro lugar o Banco do Brasil e, em quarto, o Bradesco. A Caixa Econômica ficou em quinto no quesito alta de juros.
Já o banco que menos elevou juros em 2014 foi o Itaú. Mesmo assim, o impacto no bolso dos clientes foi elevado: em um ano, as taxas do banco subiram 44,7 pontos percentuais.
Apesar de os bancos privados liderarem as altas, os públicos também pesaram a mão. No crediário, por exemplo, o Banco do Brasil (BB) foi a instituição que mais elevou juros em um ano. O custo médio nessa linha subiu de 32,8%, em janeiro, para 44,9%, em dezembro. Ao todo, a alta foi de 12,08 pontos percentuais.
Para o economista Miguel Ribeiro de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac), a política de obrigar bancos privados a baixar juros na marra se esgotou. O que se vê é justamente o contrário. Os bancos públicos estão subindo juros no mesmo patamar que os privados, ou até mais, frisou.
Alerta
O economista Samy Dana, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), avisa: as taxas de juros aos consumidores, que já estão elevadas, vão subir ainda mais. Quando o banco faz um empréstimo, ele olha não só para a Selic praticada atualmente, mas, sobretudo, para o futuro, assinalou.
Vice-líder do levantamento sobre juros ao consumidor nas quatro linhas, o HSBC alegou que o prazo dado foi insuficiente para uma resposta formal. Em terceiro no ranking, o BB respondeu, em nota, que avalia permanentemente os fundamentos do mercado e as práticas da concorrência para estabelecer sua política de preços. Por fim, reforçou o compromisso de oferecer taxas de juros e tarifas que estejam entre as melhores do mercado.
Listado como o banco que menos subiu juros, o Itaú Unibanco afirmou que não se manifestaria a respeito o assunto.
Até o fechamento desta edição, Bradesco e Caixa não deram retorno.
Fonte: Correio Braziliense