Novembro 27, 2024
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Incêndios florestais: ‘Brasil pode ser a Austrália amanhã’, alerta especialista

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia brasileira registrou 89 mil focos de incêndio em 2019, o que representa aumento de 30% em relação ao ano anterior. As queimadas voltaram a aumentar nos últimos dois meses do ano. Só em dezembro, o número de focos foi 80% maior, na comparação com o mesmo período de 2018. Esse crescimento das queimadas, combinado com o desmantelamento dos mecanismos de fiscalização e proteção do meio ambiente, além da retórica do governo Bolsonaro que estimula a ocupação desregrada da região, pode levar o Brasil a um incêndio florestal de grandes proporções, como os que vêm ocorrendo na Austrália.

Apesar das causas distintas e também da composição dos diferente dos biomas, “o Brasil pode ser a Austrália amanhã”, afirma o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy. Por lá, as queimadas vêm ocorrendo de forma espontânea, devido à onda de calor que assola o continente. Por aqui, destaca-se a atuação humana, com queimadas que se sucedem ao desmatamento das áreas florestais. Outra diferença é que a vegetação australiana é mais seca, o que facilita o alastramento do fogo, a partir de fortes ventos.

Contudo, as queimas causadas pelo homem na região amazônica podem levar a um processo de “savanização”, alerta Bocuhy, já que as áreas desmatadas, mesmo quando restauradas, não recuperariam toda a biodiversidade e densidade de biomassa da cobertura original. Assim, ficariam mais suscetíveis a incêndios espontâneos, como os que ocorrem na Austrália.

“Tentar compara os incêndios da Amazônia com os da Austrália é um exercício ilógico. É preciso muito malabarismo para fazer essa comparação. As situações são muito diferentes, desde a composição dos ecossistemas até a indução da queima. Aqui no Brasil foram queimas provocadas pela mão do homem, para a ocupação dos espaços. Na Austrália, não. É outra realidade. O que temos de semelhança é a falta de preparo dos governos”, afirmou o presidente do Proam ao jornalista Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, na quinta-feira (9).

Segundo o especialista, o cenário seria ainda mais desolador para todo o continente da América do Sul, já que é a umidade proveniente da Amazônia que abastece todo o sistema hidrológico da região, a partir dos chamados “rios voadores”. “Sem a Amazônia, haveria apenas uma transferência intempestiva de umidade do Caribe para o interior do continente, insuficiente para recarregar mananciais e aquíferos. O risco para o Brasil, com a perda da Amazônia, é muito maior”, explica Bocuhy.

Destruição e morte

Na Austrália, os incêndios já atingiram mais de 5 milhões de hectares, desde setembro. Mais de 1.500 casas foram destruídas e ao menos 25 pessoas morreram. Ecologistas da Universidade de Sydney e da organização WWF estimam que mais de um bilhão de animais naturais do país, como coalas e cangurus, foram mortos pelo fogo. A fumaça dos incêndios na Oceania chegou ao sul do Brasil na última terça-feira (7), após percorrer mais de 12 mil quilômetros carregada pelo vento.

Ainda que sem a participação direta da ação humana no caso australiano, as queimadas por lá e também outras regiões que sofreram com incêndios de grandes proporções no último ano, como na Califórnia (EUA), Espanha e Portugal, também estão relacionadas com o agravamento do aquecimento global, em decorrência da liberação dos gases de efeito estufa. Bocuhy destaca que alguns cientistas inclusive já abandonaram a nomenclatura “Antropoceno”, que marca a atual fase geológica com destaque para a ação humana sobre o meio ambiente, para outra ainda mais grave: o “piroceno” ou “era do fogo”.

Fonte: Rede Brasil Atual