Financial Times
Alex Barker, de Bruxelas
A União Europeia encaminha-se para impor as restrições mais rigorosas desde a crise financeira de 2008 sobre a remuneração de altos funcionários de bancos, no que seria uma derrota do Reino Unido diante de Bruxelas em uma questão delicada para a City londrina.
As negociações sobre as reformas da UE para tornar os bancos mais seguros entram em uma semana potencialmente decisiva com Londres em posição altamente desfavorável, depois de quase um ano de discussões de bastidores em que os britânicos tentaram enfraquecer a restrição às bonificações defendida pelo Parlamento Europeu. A França agora também defende a exigência do Parlamento de limites mais estritos a gratificações que sejam maiores do que os salários, de forma que há clara maioria, inclusive com o apoio crucial da Alemanha, a favor de que a disputa sobre as bonificações não atrase as reformas das regras sobre o capital dos bancos.
O fortalecimento dessa posição permite à Irlanda, na presidência rotativa da UE, pressionar a frente divergente, liderada pelo Reino Unido, a chegar a um consenso no Parlamento hoje. As autoridades britânicas lutam para conseguir revisar o acordo preliminar que impõe uma relação de 1 para 1 como teto para a bonificação em relação ao salário, com a possibilidade de aumento para 2 para 1 caso haja aprovação dos acionistas.
Um sinal de como o debate avançou foi o fato de o Reino Unido ter apresentado um informe sugerindo reformas alternativas que “desenvolvam o princípio do teto”, mas retirem pontos que poderiam ser contraproducentes. Essa oferta, no entanto, não atende a uma demanda fundamental do Parlamento: um limite rigoroso que inclua todas as bonificações.
Outros ajustes propostos têm mais chances, como eximir os bancos com sede na UE de também aplicar as regras a unidades fora da Europa e incentivar o uso dos chamados títulos de dívida “bail-in” (em que o detentor pode sofrer perdas em caso de quebra). Da forma como está agora, a proposta prevê a aplicação das restrições a todos os bancos operando na Europa e a suas subsidiárias e braços internacionais.
O documento britânico argumenta que a relação proposta pelo Parlamento vai encorajar “grandes salários fixos em dinheiro”, o que poderia minar a estabilidade financeira.
A relação defendida por Londres pode ser fixada em qualquer nível e exclui a remuneração de longo prazo – a forma de remuneração precisa acompanhar a saúde financeira do banco, como as ações ou títulos que ficam sem valor quando um banco quebra. “Sempre fomos a favor de um regime rigoroso, mas precisamos garantir que qualquer reforma não crie incentivos inesperados que, na verdade, provoquem o contrário do que se pretende”, disse um porta-voz do Reino Unido.
Os executivos-chefes dos principais bancos pediram ao primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, para que se oponha energicamente às restrições. “Os bancos estão ficando em pânico”, disse um diplomata envolvido nas negociações. “Eles sempre pensaram que o Reino Unido e a Alemanha os salvariam.”
Os parlamentares europeus pressionam pela versão mais rigorosa para, em algum momento, também aplicá-la a gestores de recursos e fundos hedge, que seguem as regras atuais de bonificações para bancos.
Fonte: (Publicado no Valor Econômico)