"Se tivermos esse movimento de diminuição dos bancos públicos para que os privados ocupem mais largamente o mercado, as resultantes serão a concentração de riqueza e retirada do Estado das condições para impulsionar o desenvolvimento da sociedade. Isto nunca aconteceu antes no Brasil, e eu ousaria a dizer, em nenhum país do mundo", disse o governador maranhense, Flávio Dino (PCdoB), na noite desta segunda-feira (14), no primeiro evento de 2019 da série "Diálogos Capitais", em São Luís, promovido pela revista CartaCapital e Federação Nacional das Associações de Empregados da Caixa (Fenae). O tema foi "Bancos públicos sob ataque: desafios, riscos e perspectivas".
Segundo Dino, por trás do objetivo ideológico contra os bancos públicos, está o discurso, consolidado nos últimos anos, segundo o qual "o que é público é corrupto e ineficiente, e o que é privado, é limpinho e eficiente". Porém, essa análise não ultrapassa nenhum "teste empírico". "Qual foi o grande esquema de corrupção desvendado nas últimas décadas que não teve a participação do setor privado? Nenhum."
O problema é que os holofotes que procuram iluminar a corrupção focam apenas a política, os políticos, o público e o Estado. "E às vezes a esquerda, o pensamento progressista embarca nessa armadilha ideológica. Se isto fosse verdade, que o sistema público é corrupto e ineficiente por natureza, ninguém estaria se ocupando em destruí-lo, porque as próprias leis de mercado obteriam este resultado."
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O que é público é corrupto e ineficiente, e o que é privado é limpinho e eficiente", ironiza governador
O governador do Maranhão ironizou os cidadãos que nos últimos anos foram às ruas vestidos de verde e amarelo contra o governo de Dilma Rousseff e a esquerda de modo geral. Ele dirigiu-se ao "cidadão brasileiro que acredita no Brasil, e que veste verde e amarelo por dentro e por fora, que não é só o retoricamente brasileiro que bate continência para os Estados Unidos" (referência ao conhecido gesto do presidente Jair Bolsonaro). Os bancos públicos são essenciais para uma nação soberana", acrescentou.
O presidente da Fenae, Jair Pedro Ferreira, destacou que os números são a prova de que o desmonte dos bancos públicos significariam a retirada de ferramentas importantes para fomentar o desenvolvimento. De acordo com ele, hoje, nos 217 municípios do estado do Maranhão, a Caixa Econômica está presente em praticamente todos, com programas, como Bolsa Família, financiamentos, entre outros.
"A cadeia habitacional alavanca milhões de empregos com muita rapidez e ao mesmo tempo permite que as pessoas tenham condições de vida, de moradia e de financiamento melhores", disse. No Maranhão, 60% das agências bancárias são de bancos públicos, de acordo com Ferreira, citando Caixa, Banco do Brasil e Banco do Nordeste (BNB), contra 40% dos privados. "Não temos nenhum financiamento feito pelos bancos privados, que poderiam fazer, mas não fazem."
Ferreira também falou sobre a importância do BNDES como promotor do desenvolvimento. "Todos os países têm em seu portfólio bancos de desenvolvimento. É muito difícil um país como o Brasil prescindir de um banco como o BNDES."
Elika Takimoto, professora do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ), também destacou que os bancos públicos cumprem uma função social que não interessa aos bancos privados. Ela manifestou preocupação com o destino do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), com uma eventual privatização dos bancos públicos.
"É urgente que a população entenda que a privatização dos bancos públicos ataca o futuro da nossa população. O tiro da arminha (outro gesto conhecido de Bolsonaro) é atirar com tiro de fuzil no nosso futuro", afirmou Elika.
O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Maranhão (Sinduscon-MA), Fábio Ribeiro Nahuz, destacou que seu setor, especificamente no Maranhão, tem cerca de 78% a 80% dos financiamentos habitacionais ligados à Caixa. "A maior indústria do Maranhão é da construção. Temos um diálogo muito grande com os bancos públicos. Se tiver que enxugar, que enxugue para eficiência, e não para privatização", disse.
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, esperado no debate, não participou por motivos de saúde, de acordo com a organização do evento.