“Um voo de galinha.” Esse deverá ser o crescimento econômico do Brasil se a atual política de ajuste fiscal e contenção de investimento estatal continuar nos próximos anos. Quem afirma é a economista Esther Dweck, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ela participou na manhã desta terça-feira 16 do seminário Diálogos Capitais - O Futuro dos Bancos Públicos, promovido por CartaCapitale pela Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) no Rio de Janeiro.
Em sua apresentação, a economista exibiu dados para explicar que a recessão econômica do Brasil atual é grave, mas que o receituário que vem sendo aplicando – e que pode seguir dependendo do resultado da próxima eleição – para tirar o Brasil da UTI não está ajudando, pelo contrário.
“A última crise é tão forte quanto a da década de 1980. A diferença é que, apesar de ela ter sido chamada de década perdida, quando veio a recuperação, ela foi muito mais forte. Depois de cinco anos o Brasil tinha se recuperado.” Já a crise atual, explica Dweck, “será uma retomada superlenta, que vai levar até dez anos para voltarmos ao nível do PIB de 2014”.
Esse “voo baixo” não é novidade nas análises econômicas. Aconteceu também na recessão financeira mundial de 2008-2009, explica a professora da UFRJ ao lembrar um estudo da crise nos EUA e Europa feito pelo Nobel da economia Paul Krugman. “Ele mostra que, logo após à crise, os governos rapidamente atuaram para contê-la, pois a maioria era constituída de estados de bem-estar social fortes, o que ajudou a recuperar mais rápido.”
Mas o que veio a seguir, não foi um forte reaquecimento como o observado na grave crise de 1929. “Começou a ser dito que se os países não fizessem um grande ajuste fiscal, todos virariam a Grécia”, conta Dweck ecoando o economista norte-americano. “Os países começaram a tirar o governo da recuperação e ela começou a ser lenta no mundo inteiro.”
Com alerta a professora da UFRJ, é muito parecido com o que vem acontecendo no Brasil. “O que está sendo proposto é justamente tirar o Estado do seu papel de estabilizador econômico. E uso tem muito a ver essa discussão dos bancos públicos no Brasil.”
E, segundo Dweck, não tem milagre. "O mundo não vai nos puxar – os EUA e a China estão em guerra comercial –, as empresas não vão sair gastando, pois ainda estão esperando que sua capacidade instalada seja utilizada para voltar a investir, e as famílias estão esperando que o desemprego caia para poder voltar a gastar. Sobrou um único ator que poderia tirar a gente dessa situação: o Estado.”
E as mãos deste foram atadas. “Nós agora temos a Emenda Constitucional 95/2016 [do teto dos gastos]. É algo gravíssimo o Estado simplesmente amarrar a mão de um jeito que não pode fazer nada. Além de ser uma política recessiva, pois pega uma parte grande da economia [o setor público] e dizer que ela não pode mais crescer.”
É aí que os bancos federais deveriam ter papel um essencial, acredita a professora da UFRJ. Ela observa que o setor público, seja federal ou estadual, se financiam particularmente com bancos públicos. “Se você olhar o saneamento básico, o setor rural, transporte, habitação, essas áreas dependem de bancos estatais, como o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. O que a gente está vendo é um grande desmonte dessas capacidades de financiamento”. O que pode piorar, dependendo dos resultados das urnas no dia 29, acredita a economista.
Fonte: Carta Capital