Novembro 26, 2024
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Crivella vive situação 'delicada' após denúncias de favorecimento a grupos religiosos

Após denúncias de uso da máquina pública para favorecer grupos religiosos, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), vive uma situação bastante complicada do ponto de vista de sua sustentação política. Essa é avaliação do cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Paulo Baía, ao dizer que o prefeito não poderá mais cometer deslizes, e também do vereador Tarcísio Motta (Psol), que sinaliza para uma atuação mais contundente, por parte dos opositores, em relação às ações de Crivella.

Para o vereador, a decisão do juiz Rafael Cavalcanti Cruz, da 7ª Vara de Fazenda Pública, deixa evidente a inadmissibilidade das ações do chefe do Executivo municipal. "Olha o nível a que chegamos. A Justiça tem que determinar algo óbvio: o Estado é laico. Espero que seja mais uma decisão que demonstre que as ações de Crivella são inaceitáveis", diz.

Já o cientista político argumenta que a situação do prefeito é delicada por ter de lidar com duas frentes: a Câmara Municipal e a Justiça. "Na base parlamentar ele tem maioria, mas a oposição está organizada e vai continuar pressionando. A outra é o Ministério Público, onde está a maior fragilidade. Com a decisão sobre as restrições, isso facilita a oposição a denunciá-lo por não cumprimento de uma ordem judicial", explica.

O parlamentar afirma que o prefeito não sabe separar suas preferências religiosas da gestão, e cita alguns episódios para ilustrar. "Os guardas municipais tiveram que declarar sua religião num censo interno, também houve manifestações de religiões de matriz africana com dificuldades de autorização para realizarem eventos, enquanto foi cedido facilmente o sambódromo para outros eventos religiosos. Além disso, ele mostra que seu entendimento de política pública é como se fosse caridade", critica.

Tarcísio Motta acrescenta que a base oposicionista continuará atuante e planeja a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) já em agosto, para apurar as denúncias sobre uma suposta fraude na fila do Sistema de Regulação de Vagas da Saúde Municipal (Sisreg) do Rio.

Além da CPI do Sisreg, a "CPI da Márcia" pretende investigar os fatos relativos à funcionária da prefeitura que seria responsável pelo direcionamento de fiéis para procedimentos como operações de catarata. A comissão já tem as 17 assinaturas necessárias para ser instalada e seu pedido de abertura também foi protocolado. "De acordo com as provas que forem coletadas, a gente retoma o debate do Crivella ter condições ou não te permanecer no cargo. Isso é um debate difícil por causa da base fisiológica, que age sem princípios", alerta o vereador do Psol.

Para ele, com o descrédito vivido pelo prefeito, o Rio vive uma crise de governabilidade. "Temos um presidente apoiado pela margem de erro, um ex-governador em exercício que não tem gerência sobre a segurança e um prefeito atolado em denúncias e críticas, com recorde rejeição na capital. Essa crise influi na descrença, a população acredita que o serviço de saúde não será mais transparente. Estão naturalizando coisas que não deveriam", lamenta.

No último dia 12, por 29 votos a 16, a Câmara Municipal do Rio negou a admissão de um pedido de impeachment contra Crivella. O recesso parlamentar foi retomado até o dia 31.

 

FONTE: Rede Brasil Atual