Em seu segundo dia, o seminário que discute os desafios da indústria no Brasil, contou com a participação de representantes do mundo acadêmico, do cooperativismo solidário e das micro e pequenas indústrias. Falando aos trabalhadores do chamado macrossetor industrial da CUT, eles defenderam uma aliança de longo prazo na busca de saídas para a crise que garantam a retomada do protagonismo do setor no desenvolvimento nacional.
A diretora executiva do Dieese, Patrícia Pelatieri, traçou um breve histórico da atuação do movimento sindical do setor. Ela destacou que os trabalhadores industriais apresentam taxas de sindicalização maiores que a média, bem como se destacam em garantir ganhos reais nas negociações coletivas.
Outro ganho da classe trabalhadora, segundo ela, foi o desenvolvimento de espaços tripartites de discussão de políticas para a indústria – durante os governos Lula e Dilma – reunindo trabalhadores, patrões e representantes do governo para definir políticas para o setor.
Contudo, mesmo o grupo mais dinâmico e atuante do sindicalismo também sofre os efeitos da crise econômica, aprofundada desde o golpe que levou Michel Temer ao poder. "Temos um mercado de trabalho que se desestrutura muito rapidamente", ressaltou Patrícia, destacando, além da elevação do desemprego, o crescimento da informalidade, bem como dos trabalhadores autônomos, impactando, assim, no nível de sindicalização.
Academia
O reitor da Universidade Federal do ABC, Wagner Carvalho, e o diretor do Centro de Tecnologia da Informação (CTI) de Campinas, Victor Mammana, destacaram que a chave para garantir a inovação é o fortalecimento da integração da indústria com as áreas de ensino, pesquisa e extensão. "Precisamos ter um setor industrial em constante processo de inovação", afirmou Carvalho.
Ele destacou iniciativas da UFABC, como o doutorado acadêmico industrial, onde as empresas da região exercem participação direta na formação dos estudantes, que depois atuam juntos para desenvolver projetos de inovação. Apesar dos avanços, ele destacou que as indústrias têm dificuldades de encarar tais processos de parceria, e tentam submeter os estudos acadêmicos aos seus próprios interesses. "Não é mera prestação de serviços", apontou.
Mammana afirmou que o setor ainda sofre com as consequências da abertura irrestrita às importações na década de 1990. Segundo ele, um setor produtivo saudável é composto por inúmeras pequenas empresas, outras tantas médias e algumas poucas grandes, que lideram o setor. A abertura, segundo ele, teria dizimado principalmente as pequenas, responsáveis pelo desenvolvimento de componentes e insumos tecnológicos.
Pequenas empresas
O presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi), Joseph Coury, também afirmou que a saída para a retomada da indústria passa pela aliança dessa parte do empresariado com os trabalhadores, em prol de uma política que privilegie o mercado interno e a retomada do emprego. Segundo ele, as primeiras a demitirem em momentos de crise são as grandes empresas.
Ainda assim, as micro e pequenas empresas não recebem o mesmo tratamento que as grandes corporações. Ele destacou, por exemplo, os vetos do governo Temer para programa de refinanciamento (Refis) aos pequenos, enquanto inúmeras vantagens foram garantidas às grandes empresas e ao agronegócio. Diferentemente das grandes, elas também não contam com linhas de créditos especias para financiamento de longo prazo.
Cooperativismo
O presidente da Unisol Brasil, Leonardo Pinho, destacou que até mesmo entre as cooperativas, o setor industrial vem perdendo participação. Ele também defendeu a "unidade" do cooperativismo com o movimento sindical para colocar o trabalho no centro da agenda econômica nacional.
Ele ressaltou que a construção de estratégias coletivas entre os trabalhadores vem sendo esvaziadas, nos últimos anos, devido ao avanço da cultura do empreendedorismo individualista. Ele destacou o esforço de formalização dos microempreendedores, mas questionou a capacidade de organização desse grupo, que não tem representação formal, e desafiou o movimento sindical a buscar essa aproximação.
Pinho também alertou para os riscos da mudança na Lei de Falências pretendidas por Temer, que quer privilegiar o pagamento de dívidas aos bancos, e não a quitação de dívidas trabalhistas, como é atualmente. Ele defendeu mudanças, mas que facilitem a tomada do controle das empresas pelos trabalhadores em processos de recuperação judicial.
FONTE: Rede Brasil Atual