Os bancos europeus no Brasil já sentem os efeitos da crise que está obrigando suas matrizes na União Europeia a reduzir concessão de crédito e aumentar capital.
As instituições aqui foram afetadas de quatro maneiras: exclusão do mercado de captação de recursos internacional, venda de ativos para fazer caixa, rebaixamento em nota de crédito e corte em apoio das matrizes.
Enquanto os bancos brasileiros continuam emitindo títulos no exterior, embora a custos mais altos, a última subsidiária europeia a captar foi o Santander, em maio.
“O custo de financiamento subiu para todo mundo, mas o das subsidiárias europeias aumentou um pouco mais”, diz Sérgio Garibian, diretor de instituições financeiras da Standard & Poor’s.
Segundo ele, o banco aproveitou para adiantar suas emissões no primeiro semestre, quando a situação não estava tão ruim.
Agências de classificação de risco têm rebaixado as notas dos bancos europeus.
Como as subsidiárias nunca podem ter a nota superior à matriz, segundo regras da S&P, os brasileiros com nota próxima à das matrizes acabam tendo “downgrade”, como ocorreu na sexta com o Banco Espírito Santo no Brasil, que virou “junk” (lixo).
Uma nota de crédito pior implica maiores custos para emitir títulos. “Tenho que fazer todo o meu financiamento aqui dentro, já que a matriz não me passa recurso e captações lá fora estão fechadas”, contou um alto executivo de um banco europeu à Folha. “A matriz nos disse: ‘Vocês vão ter que se virar, porque daqui não sai nada’.”
Ele diz que o banco tinha US$ 600 milhões em linhas em dólar e, agora, só US$ 100 milhões. “Antes financiava três projetos por vez; agora, só tenho recursos para um.”
A S&P ressalta que bancos como HSBC e Santander têm boas condições de “funding”, pois contam com grande rede de agências e correntistas.
Outros bancos que não podem contar tanto com o dinheiro de correntistas, como o BES e o BNP Paribas, recebem classificação de “funding” “abaixo da média”.
AUTONOMIA
“O cenário externo não tem impacto direto no Santander Brasil, o banco adota um modelo no qual todas as subsidiárias são autônomas em capital e em liquidez. A unidade local tem baixa conectividade financeira com a matriz”, informou o Santander.
O HSBC também estaria sofrendo menos, pois tem 42% do lucro vindo de Hong Kong e China, dependendo menos de suas operações europeias.
As novas exigências da autoridade bancária europeia preveem que os bancos europeus tenham 9% de capital em junho. O Santander diz que chegará a um capital de 10% com geração orgânica de resultados, otimizações de capital e venda de ativos.
“Vendemos 7,8% do capital no Chile e a operação na Colômbia. No Brasil, o banco tem um compromisso de chegar a 25% do capital social em livre circulação até outubro de 2012.”
O Santander concluiu em outubro a venda do Santander Seguros para a Zurich, por US$ 1,7 bilhão.
Fonte: Folha de S.Paulo