Sob o argumento de que resolveria as contas públicas, presidente aprofundou sem limites as políticas neoliberais, com aval dos comentaristas econômicos a sustentar o golpismo
Com o fim do ciclo de forte crescimento econômico que marcou as três décadas posteriores à segunda Guerra Mundial (1939-1945), o capitalismo ingressou em nova fase de expansão sustentada pelo sistema de dívidas públicas e privada. Sem mais a presença do crescimento contínuo e elevado da produção, emprego e renda, a lógica de funcionamento dos mercados e do Estado mudou gradual e profundamente.
O rentismo se fortaleceu rapidamente pelo sistema de dívidas privadas e públicas a compensar a ausência de lucros operacionais virtuosos nas empresas, de superávit nas contas públicas do Estado e de salários decentes aos trabalhadores. Assim, a dinâmica expansionista do capitalismo apoiou-se e enriqueceu sem paralelo histórico os credores das empresas, dos Estados e dos trabalhadores endividados, cada vez mais hegemônicos no exercício do poder no mundo.
Nesse sentido, o antigo monitoramento da riqueza referenciado pelos indicadores macroeconômicos tradicionais do comportamento econômicos (produção e vendas, emprego e salário, tributos e gastos) foi substituído por medidas de capacidade dos devedores honrarem pagamentos devidos às obrigações financeiras assumidas. Embora existissem desde o século 19, as agências de classificação de risco, sobretudo as chamadas The Big Three (Fitch Ratings, Standard & Poor’s e Moody’s) que detém 95% do mercado global de classificação de crédito, assumiram papel destacado na regulação privada do rentismo global, pois atribuem notas de solvabilidade do endividado para atender o contrato no prazo prometido.
Isso se tornou evidente aos brasileiros desde a inserção passiva e subordinada à globalização financeira pelas vias das políticas neoliberais dos governos da década de 1990. Mesmo que defendessem insistentemente a obtenção do grau de investimento concedido pelas agências de classificação de riscos, as políticas neoliberais jamais permitiram ao Brasil obter o selo de bom pagador.
Somente com as políticas pós-neoliberais implementadas pelos governos liderados pelo Partido dos Trabalhadores que o Brasil obteve, em 2008, o grau de investimento concedido pelas agências de classificação de risco. Mesmo tendo passado pela crise de dimensão global naquele mesmo ano, o Brasil seguiu até 2015 com a posse do selo de bom pagador.
Ressalta-se que as agências de classificação de risco foram muito criticadas e penalizadas na crise global de 2008, pois se mantiveram inertes diante do endividamento de países, empresas e indivíduos nos países ricos. Por conta disso, que os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) começaram a tratar, embora sem ainda implementação, de uma agência pública de classificação de riscos daquele conjunto de países.
De todo o modo, convém ressaltar que desde o retorno do receituário neoliberal estabelecido na recessão de 2015, o país perdeu o selo de bom pagador, com o rebaixamento das agências internacionais de classificação de riscos. Em 2018, o Brasil foi rebaixado novamente.
O governo Temer, com a sua equipe econômica dos sonhos do mercado financeiro, aprofundou - sem limites - as políticas neoliberais sob o argumento que o país resolveria o problema das contas públicas. Mas o que se tem visto é a ampliação do endividamento do Estado e a prevalência de elevados déficits públicos, apesar de Meirelles - mãos de tesoura - atuar continuamente na destruição dos direitos sociais e dos ativos nacionais.
A coletânea de fracassos da equipe econômica parece inegável, salvo para os comentaristas econômicos alinhados com o condomínio de interesses a sustentar o golpismo no Brasil. A mudança da agenda de reformas neoliberais para o militarismo da intervenção no Rio de Janeiro, por enquanto, não deixa de ser mais um sinal de que da economia, o governo Temer não terá êxito a apontar.
FONTE: Rede Brasil Atual