Novembro 26, 2024
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Intervenção no Rio: moradores das favelas são os que mais sofrerão

Para o ex-ministro de Direitos Humanos no governo FHC e professor aposentado de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Sérgio Pinheiro, a decisão do governo Temer de intervir na segurança do Rio de Janeiro é "desastrada", "inócua" e "não vai resolver absolutamente nada".

"Os grandes traficantes estão na Avenida Atlântica, na Barra da Tijuca, ou em Miami. Quem vai pagar por essa intervenção são os moradores das comunidades, das favelas. É totalmente inócuo. As Forças Armadas não têm nenhuma competência para lidar com a criminalidade, seja o crime comum ou organizado. A curto prazo, não vai resolver absolutamente nada, só vai agravar a situação", afirmou Pinheiro à Rádio Brasil Atual nesta segunda-feira (19). 

Ele também refutou o argumento oficial que tenta dar ares civis à intervenção. "É na verdade uma intervenção militar, já que o setor de segurança passa a ser controlado pelas Forças Armadas, como na ditadura." 

Pinheiro ainda classificou como "escândalo para a democracia" a possibilidade de eventuais crimes cometidos por agentes das forças armadas venham a ser julgados pela Justiça Militar, conforme determina lei sancionada por Temer em outubro passado, assim como a proposta de utilização de mandados coletivos de busca e apreensão a ser utilizado contra as comunidades. 

Para o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ( MST), Gilmar Mauro, que também falou à Rádio Brasil Atual, a intervenção no Rio de Janeiro serviu como "cortina de fumaça" para encobrir a derrota sofrida pelo governo na tentativa frustrada de mexer nas regras das aposentadorias. Ele também prevê que os maiores prejudicados serão "a classe trabalhadora e a população mais pobre."

Para Mauro, não se trata apenas de militarização da segurança pública, "é a militarização da política". Ele ainda prevê que o governo Temer possa fazer todo o possível para evitar a ocorrência normal das eleições em outubro, de modo a tentar salvar o projeto de desmonte do Estado, que poderia ser revertido com a escolha de um candidato popular.