O fenômeno climático La Niña deve afetar a safra agrícola no Brasil e também trazer volumes intensos de chuva que podem causar problemas em diversas cidades do país. A avaliação é do professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) e do Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental Wagner Ribeiro, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, da Rádio Brasil Atual.
"O La Niña é um fenômeno que ocorre de sete em sete anos, variando a frequência, já que é difícil precisar a regularidade desses eventos climáticos, e consiste basicamente em um resfriamento um pouco abaixo da média de uma região importante no Oceano Pacífico", explica Ribeiro. "O mar e o ar trocam fluidos todo o tempo, são duas camadas, uma de ar e outra de água, interagindo. Aquecendo ou esfriando, uma influencia a outra."
Os efeitos do fenômeno já podem ser sentidos no país. "Quando o La Niña ocorre, temos uma projeção mais aguda de chuva, é o que encontramos agora a partir de dezembro e janeiro no Brasil. Isso causa alguma inquietação porque essa chuva se torna mais intensa nesse momento, mas diminui nos meses de fevereiro e março, trazendo preocupações para o período da safra agrícola", destaca Ribeiro. "Mas tem o lado bom, que é a possibilidade da volta de chuva no sertão nordestino, os modelos estão indicando isso."
Além dos possíveis efeitos na safra agrícola, o geógrafo também ressalta as consequências danosas que a elevada precipitação pode trazer em termos sociais. "É importante comentar sobre os efeitos que essas chuvas geram. Da ordem de 15% dos municípios em 2013 foram afetados por eventos vinculados a chuvas intensas, com enxurradas, alagamentos, deslizamentos, e esse contingente acaba gerando um maior índice de óbitos", analisa. "Mais da metade das mortes que temos por desastres naturais no Brasil ocorrem justamente por conta das chuvas intensas. Por isso alguns colegas dizem que não há nada de natural, pois todo ano isso ocorre e precisamos nos organizar para esse tipo de ação."
Ribeiro critica ainda a omissão governamental. "No caso do La Niña, com o agravamento das chuvas, os cuidados deveriam ser ainda maiores e não vemos nenhuma mobilização do governo", aponta. "A defesa civil no Brasil, especialmente no último ano e meio, praticamente deixou de existir."