VAGUINALDO MARINHEIRO
Folha de S.Paulo – Londres
Alemanha e França fecharam um pacote que, esperam, irá salvar o euro e a economia dos 17 países que usam a moeda comum.
As medidas – que incluem mudanças em tratados da União Europeia, mais controle sobre as contas dos países e punição automática para quem não respeitar o limite de 3% do PIB para o deficit público – serão analisadas em reunião dos líderes do continente na próxima sexta.
Ironicamente, alemães e franceses seriam punidos hoje.
Para investidores, a reunião é a última chance de os políticos mostrarem que irão tomar as medidas necessárias para evitar o colapso da moeda e a quebradeira de países como Itália e Espanha.
“Esse pacote mostra que estamos absolutamente determinados a manter o euro como uma moeda estável”, afirmou Angela Merkel, chanceler (premiê) alemã, em entrevista com o presidente francês, Nicolas Sarkozy.
Os dois, que governam as maiores economias do continente, disseram que é hora de reconquistar a confiança dos mercados e mostrar que é seguro investir na Europa.
Para isso, afirmaram que não se repetirá o caso da Grécia, em que os detentores de títulos públicos do país terão de aceitar um calote de 50% no que têm a receber.
A divisão do ônus com os credores privados sempre foi uma bandeira da Alemanha. Mas o medo de que o modelo grego se alastrasse para outros países endividados fez com que os investidores exigissem juros cada vez maiores para emprestar à maioria das nações europeias.
Também com a intenção de reconquistar a confiança, o pacote de Merkel e Sarkozy exige que todos os países incluam em suas Constituições um limite para o deficit público (despesas menos receitas), que não poderá ser maior que 3% do PIB.
Quem passar desse limite será automaticamente punido pela UE. Poderá ter as finanças monitoradas, pagar multas e perder verbas do fundo de infraestrutura.
Os dirigentes de Alemanha e França sabem que tratados estruturais da UE terão de ser alterados. Mas não revelaram como. Disseram que gostariam que as medidas fossem adotadas por todos os 27 países do bloco – o que seria difícil e muito demorado.
Se for entendido que as mudanças significam transferência de poder dos Estados para a UE (por exemplo, sobre o controle das finanças), serão necessários referendos populares em países como Reino Unido e Irlanda.
Outra possibilidade seria emendar tratados e fazer com que as medidas valham só para os 17 membros da zona do euro. “Preferimos um acordo entre os 27, mas pode ser restrito aos 17″, disse Merkel.
O pacote e novas medidas de austeridade na Itália e na Irlanda agradaram aos mercados. Bolsas subiram, e caíram os juros pagos em títulos da Espanha e da Itália.
Fonte: Folha de S.Paulo