Jed Horowitz Reuters
Tradução de Sabino Ahumada
O verão de 2012 nos Estados Unidos pode vir a ser lembrado como a temporada em que as exigências regulatórias, os escândalos e o longo período de baixo crescimento da economia enfim ajustaram contas com os grandes bancos do país. Desde a crise financeira, os bancos dos EUA e seus investidores nutriam esperanças de ver uma volta aos bons tempos, quando os lucros com a concessão de créditos subiam de forma constante e as atividades de banco comercial e de investimento prosperavam ao mesmo tempo. Analistas e investidores, no entanto, agora se perguntam se a situação não teria mudado para sempre.
“Meus instintos dizem que esses megabancos valem mais desmembrados do que combinados”, afirmou Bill Black, sócio da Consector Capital, fundo de hedge especializado em bancos. Instituições menores e mais especializadas poderiam atrair investidores, contentar reguladores e elevar o valor de suas abaladas ações, segundo Black.
O lucro de sete dos dez maiores bancos dos EUA superaram as estimativas médias dos analistas no segundo trimestre do ano. Grande parte disso, no entanto, veio de cortes de custos e da utilização de dinheiro reservado anteriormente para cobrir empréstimos de difícil recuperação, não do crescimento em suas operações mais importantes, que é o que os investidores gostariam de ver.
A receita com a concessão de empréstimos, corretagem e assessoria a clientes empresariais em fusões e aquisições ainda mostra fragilidade e as baixas taxas de juros continuam a limitar os lucros com empréstimos e outros investimentos. Os bancos e suas ações, que já estão em baixos patamares, parecem encaminhar-se para um longo futuro sombrio.
Nancy Bush, analista especializada e investidora no setor bancário há 30 anos, disse estar disposta a jogar a toalha quanto aos bancos, seja qual for seu tamanho. “O que resta a essa altura, a não ser que haja uma melhora realmente significativa na economia e um avanço miraculoso na concessão de créditos?”, pergunta Bush. “Por que investir nessas empresas? Alguém me dê um motivo para acreditar.”
Enfrentar ciclos de declínio econômico com mais cortes de empregos não é uma boa resposta de longo prazo, de acordo com alguns especialistas em bancos. Os problemas atuais decorrem de mudanças estruturais no setor financeiro, como o endurecimento da regulamentação e as exigências de reestruturações radicais.
“A conclusão é que eles precisam ficar menores, para que possam administrar melhor”, disse Roy Smith, professor de finanças na Stern School of Business, na New York University (NYU). “Eles precisam desistir da ideia de ser um conglomerado bancário universal que agrupa operações que não têm nada a ver entre si.”
O Morgan Stanley é um dos “Golias financeiros” que vem sinalizando ter entendido o recado. Até o fim de 2014 pretende encolher seus ativos de corretagem de renda fixa ponderados pelo risco em cerca de 30% em relação aos níveis vistos no terceiro trimestre de 2011, segundo representantes do banco disseram em teleconferência sobre o balanço do segundo trimestre.
Estatísticas do governo mostram que os créditos contabilizados nos balanços dos bancos comerciais dos EUA em junho cresceram 5,3% em relação ao mesmo mês de 2011, o décimo mês de crescimento consecutivo. As baixas taxas de juros e a concorrência intensa pelos tomadores de melhor qualidade de crédito, contudo, vêm corroendo o retorno gerado por hipotecas e créditos a empresas, as modalidades de empréstimo mais representativas.
Mesmo que os bancos estejam emprestando mais e a melhores tomadores, o estão fazendo de forma menos rentável. “Um período prolongado de baixas taxas de juros exerce muita pressão sobre os balanços patrimoniais”, disse Black, da Consector.
Os executivos de bancos também levantaram preocupações nas teleconferências sobre os resultados do trimestre ao alertar para a possibilidade de que a onda de aumento no refinanciamento hipotecário acabe até o fim do ano. O U.S. Bancorp, sétimo maior banco comercial dos EUA, registrou aumento aproximado de 17% no lucro trimestral, mas avisou que boa parte do crescimento foi decorrente de refinanciamentos hipotecários, agora em declínio.
Se a economia estivesse se recuperando, os bancos poderiam ter menos motivos de preocupação. Após examinar as conferências telefônicas de 22 executivos de bancos, o analista Dick Bove, da Rochdale Securities, no entanto, disse estar apreensivo quanto à economia. “Eles estão vendo claramente que seus clientes não querem contratar pessoas ou envolver-se em muitos gastos de capital”, disse.
Um sinal de problemas: o crescimento na concessão de créditos não vem acompanhando o crescimento dos depósitos bancários.
Em março de 2010, os bancos emprestaram cerca de 99% do dinheiro recolhido dos depositantes. Em março de 2012, a relação caiu para menos de 77%, menor porcentagem em mais de dez anos, segundo o Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC), agência do governo dos EUA que garante os depósitos bancários.
Os executivos de bancos também disseram nas teleconferências que seus melhores clientes mostram-se cada vez mais relutantes em investir nas próprias empresas por incertezas com as eleições presidenciais nos EUA, com o chamado “abismo fiscal” dos impostos, com o orçamento no fim do ano e com os atuais problemas na economia mundial.
Para muitos bancos, entretanto, os problemas são mais profundos do que apenas a desaceleração da economia. As atividades nos mercados de capitais, como a corretagem de ações e bônus, simplesmente não são mais tão lucrativas quanto costumavam ser. Os volumes seguem uma tendência de queda de longo prazo e as autoridades reguladoras vêm impondo restrições à capacidade dos bancos de apostar seus próprios recursos.
Os grandes bancos também precisam separar mais capital para respaldar suas operações de corretagem mais arriscadas, em um momento em que as operações proporcionam retornos abaixo da média. Bancos comerciais importantes que possuem unidades de banco de investimento vão ter problemas, da mesma forma que firmas como o Goldman Sachs, que atuam apenas na área de banco de investimento, segundo analistas.
“Nove entre dez dos maiores bancos mundiais nos mercados de capitais não são capazes de ganhar o custo de capital próprio”, disse Smith da NYU, que foi sócio do Goldman Sachs. “Se você ficou em cima disso e apostou nesses sujeitos porque estão subvalorizados, sua paciência está se esgotando.”
É verdade, há alguns bancos que se ativeram à sua atividade como bancos comerciais e ganharam aplausos constantes – e altas cotações – de investidores e analistas. Entre esses bancos estão o Wells Fargo Corp., quarto maior banco dos EUA em ativos, e o U.S. Bancorp. Esses bancos possuem fortes controles de crédito, em geral evitaram cortes de juros para ganhar participação de mercado e vêm gradualmente ganhando operações baseadas em comissões em vez de em juros.
Analistas dizem, contudo, que seus principais clientes institucionais têm se mostrado cada vez mais relutantes em investir em qualquer ação de bancos. Na semana passada, o destacado administrador de fundos de hedge Bill Ackman disse que sua firma havia vendido uma grande posição no Citigroup, apesar de admirar em termos gerais a administração do banco, porque o sistema bancário havia se tornado muito arriscado.
As perdas de quase US$ 6 bilhões do J.P. Morgan Chase & Co. com derivativos e o escândalo de manipulação da taxa interbancária do mercado de Londres (a Libor) nos últimos meses acabaram se revelando a “proverbial última gota d’água que transborda o balde”, escreveu Ackman a seus clientes na Pershing Square Capital Management.
Por meses, o executivo-chefe do J.P. Morgan, Jamie Dimon, não teve ideia do tamanho das perdas que vinham ganhando forma dentro do seu banco, sinalizando a muitos acionistas que os principais bancos são grandes e complexos demais para serem administrados, segundo investidores.
“Se não acredito que mesmo os especialistas que estão lá dentro têm grande domínio do que ocorre, certamente não me sentirei tranquilo em investir meu capital lá”, diz Black, da Consector Capital.
Fonte: Jed Horowitz Reuters – Tradução de Sabino Ahumada