A Contraf-CUT, federações e sindicatos se reuniram no final da tarde desta quinta-feira (28) com o vice-presidente executivo sênior do Santander, José de Paiva Ferreira, responsável pela área de Recursos Humanos (RH), e cobraram o fim das demissões imotivadas no banco espanhol e melhores condições de trabalho.
A reunião, que durou uma hora e meia, ocorreu nas dependências do Casa 1 do Santander, na zona sul de São Paulo. Também estiveram presentes a nova diretora de RH, Vanessa Lobato, o superintendente de Relações Sindicais, Luiz Cláudio Xavier, a assessora Fabiana Ribeiro e o consultor jurídico Renato Franco.
Corte de 4,5 mil empregos em um ano
Os bancários denunciaram que o Santander é hoje o banco que mais está demitindo no Brasil. Segundo dados do Dieese, a partir dos balanços publicados, mesmo com lucro líquido de R$ 4,3 bilhões até setembro deste ano, houve corte de 3.414 empregos no mesmo período, o que é totalmente injustificável.
Apenas no terceiro trimestre, a instituição eliminou 1.124 postos de trabalho. Já nos últimos 12 meses, a redução alcançou 4.542 vagas, uma queda de 8,2% no quadro de funcionários que caiu para 50.578 em setembro.
Os dirigentes sindicais questionaram o executivo do Santander por que o corte de empregos ocorre justamente no Brasil, que participa com 24% do lucro mundial, o maior resultado entre todos os países onde o banco atua.
“Com tantas demissões, hoje faltam caixas e coordenadores na rede de agências, provocando sobrecarga de serviços, assédio moral, estresse e adoecimento de bancários, piorando as condições de trabalho e prejudicando a qualidade de atendimento aos clientes”, disse Maria Rosani, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander, que assessora a Contraf-CUT nas negociações com o banco.
“Não é à toa que o banco voltou a ser campeão em outubro no ranking de reclamações de clientes no BC, num ano em que ocupou essa incômoda liderança por sete meses consecutivos”, lembrou o secretário de imprensa da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr.
Demissões não são “normais”
Paiva reconheceu que estão acontecendo dispensas e que continuarão ocorrendo, dizendo que são “normais”. Os dirigentes sindicais rebateram, afirmando que para os trabalhadores, principais responsáveis pelos lucros bilionários do banco, são anormais e nada contribuem para melhorar o atendimento e a eficiência da instituição.
Os representantes dos trabalhadores denunciaram que existe uma onda de boatos de novas demissões em massa na véspera do Natal. No ano passado, o banco desligou sem justa causa 1.153 funcionários em todo país, o que representou um corte de 975 empregos. “Não haverá demissões em massa em dezembro”, disse Paiva.
Atual modelo de gestão não serve
O vice-presidente do Santander disse que “o plano do banco é de crescimento de negócios e de clientes e, para crescer, as pessoas devem estar satisfeitas, engajadas, motivadas e felizes”. Os dirigentes sindicais mostraram que a realidade é hoje bem diferente na rede de agências, onde impera o caos diante da falta de funcionários, pressão por metas abusivas, assédio moral, insegurança e condições precárias de trabalho.
Os sindicalistas mostraram ao executivo do Santander que o atual modelo de gestão do banco não serve para motivar os funcionários, melhorar o atendimento e alavancar o banco no mercado. “Os trabalhadores estão hoje inseguros, descontentes e infelizes”, disse a diretora executiva do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Rita Berlofa.
Os representantes dos trabalhadores denunciaram que o banco cortou até despesas de limpeza, o que é um absurdo. “Tem agência onde a funcionária da limpeza passou a trabalhar somente uma ou duas horas por dia. Uma criança de uma cliente vomitou e a trabalhadora não estava lá para limpar o chão”, denunciou Rita. “Dessa forma, as agências serão paralisadas por falta de higiene, assim como já vêm sendo fechadas no horário de almoço e por outros tantos problemas”, apontou.
“Desafiamos o Santander a mudar a gestão se realmente pretende ser o melhor banco para se trabalhar como vive prometendo”, acrescentou Rita.
Direito à informação e transparência
Os dirigentes sindicais cobraram também transparência em relação às informações sobre os funcionários do banco. Na Espanha, os sindicatos têm acesso a dados como número de contratações, desligamentos e afastamentos, bem como as faixas e níveis salariais, que são divulgados em jornais para o conhecimento de todos.
Paiva disse que concorda em abrir informações para o movimento sindical e ficou de apresentar números de recentes pesquisas feitas com os funcionários do banco.
“Queremos direito à informação e transparência na gestão, como forma de valorização dos funcionários do banco, além de contribuir para elaborar propostas alternativas”, salientou Rita.
Avaliação
Para o diretor da Contraf-CUT, “abrimos um importante canal de diálogo com um dos principais executivos do banco e, mesmo que ele não tenha assumido nenhum compromisso com o fim das demissões, esperamos que a situação real das agências que apresentamos estimule reflexões e mudanças na gestão do banco, sobretudo na relação com os trabalhadores e os clientes”.
“Precisamos continuar fazendo ações sindicais em todo o país, a fim de defender o emprego e os direitos dos trabalhadores e aposentados do banco”, enfatiza Ademir. “Queremos que o Santander respeite o Brasil e os brasileiros”, conclui.
Participação
Também participaram da reunião os dirigentes sindicais Mário Raia (Contraf-CUT), Alberto Maranho (Fetec-CUT/SP), Paulo Garcez (Fetraf RJ-ES), Bino Koehler (Fetrafi-RS), Tereza Souza (Fetrafi-NE), Leonice Souza (Fetec Centro Norte), Sandro Zanona (Fetec-CUT/PR), Cristiano Meibach (Feeb SP-MS), Adelmo Andrade (Feeb BA-SE), Erik Nilson (Sindicato do ABC), Chocolate (Sindicato de Barretos), Marcelino da Silva (Sindicato de Campinas) e o presidente da Afubesp, Camilo Fernandes.
Fonte: Contraf-CUT