Dinny McMahon
The Wall Street Journal, de Pequim
Depois de passar décadas dependendo dos bancos estatais, o governo chinês vai agora permitir a criação de novos bancos privados, abrindo um setor mantido largamente à margem do capital privado e reconhecendo indiretamente que o sistema atual não está funcionando.
O programa aprovado na semana passada pela liderança do Partido Comunista propõe permitir que investidores privados, que preencham certos requisitos ainda não definidos, possam abrir bancos pequenos e médios e outras instituições financeiras.
A iniciativa, ainda que vaga, indica uma disposição maior do governo de apoiar o setor privado chinês, que, apesar se ser uma parte cada vez mais importante da economia, sofre com a falta de recursos, há muito controlados pelas empresas estatais.
A decisão, que ocorre após várias empresas pequenas e conhecidas terem expressado interesse em estabelecer bancos, marca uma mudança na estratégia do governo. O sistema bancário da China foi por décadas efetivamente um domínio exclusivo das estatais, cujos diretores respondem aos líderes do governo. Figuras tradicionais no modelo econômico chinês, os bancos transformam a prodigiosa poupança das famílias chinesas em capital barato destinado às estatais.
Embora esse modelo tenha sustentado o boom de crescimento na China, ele levou a excesso de capacidade, subutilização da infraestrutura e endividamento elevado. O governo vem há anos exortando os bancos a emprestar mais às empresas privadas, que geralmente têm dificuldade em obter financiamento, e ajudá-las assim a desenvolver o seu potencial. Como esse esforço não foi suficiente, o governo decidiu abrir o setor e estimular a concorrência.
“O endosso da cúpula por meio desse documento reflete a determinação do governo de promover uma concorrência saudável no setor bancário”, escreveu Jianguang Shen, economista-chefe do banco Mizuho Securities na Ásia. “A reforma ajudaria também a canalizar fundos mais eficientemente para as pequenas empresas não estatais.”
Nesta semana, Zhang Hongli, vice-presidente do Industrial & Commercial Bank of China, o maior banco chinês em ativos, disse que a entrada dos bancos privados no sistema financeiro é bem-vinda. “Concorrência é uma coisa boa”, disse ele.
Essa não é a primeira vez que o governo manifesta a intenção de abrir o setor. O Conselho de Estado, como é chamado o gabinete do governo, afirmou em julho que permitiria que investidores privados “dispostos a correr riscos” abrissem bancos.
Desde então, a varejista de eletrodomésticos Suning Commerce Group, a incorporadora Macrolink Real Estate, a varejista de roupas Shanxi Baiyuan Trousers Chain Management e a gigante da internet Tencent Holdings se mostraram interessadas em criar um bancos.
Desde agosto, a Administração Estatal da Indústria e do Comércio aprovou mais de 30 solicitações de registro de nomes de bancos, um passo preliminar para a obtenção de uma licença.
Apesar da ausência de diretrizes para a abertura de bancos, muitas empresas de varejo e tecnologia da China já vêm oferecendo serviços financeiros como sistemas de pagamento, pequenos empréstimos e até produtos de investimento. Analistas dizem que elas poderiam fazer rapidamente a transição para bancos.
A Retailer Suning, considerando os milhões de clientes que já usam seu sistema de pagamento on-line e sua rede de quase 1.700 lojas físicas, “poderia se tornar uma genuína força no setor bancário”, embora isso vá depender da regulamentação, afirmou a Nomura Securities International numa nota.
Pequenas e médias empresas são grandes empregadores, mas vistas como um risco de crédito pelos bancos estatais. Por isso, elas sempre recorreram a empréstimos de fontes informais – amigos, família, outras empresas e bancos alternativos – para tocar seus negócios. Na visão do governo, dar a essas empresas mais acesso ao crédito cria possibilidades de crescimento e de aumento de emprego e inovação.
Sem os recursos e nem as relações para conceder empréstimos para as empresas estatais, que são consideradas de menor risco de crédito devido à garantia implícita do governo, os novos bancos provavelmente se concentrariam nas empresas privadas, das quais vão poder cobrar taxas de juros maiores.
Um consórcio de empresas que está pretendendo criar um banco na província de Shanxi quer emprestar predominantemente para pequenas e microempresas e para clientes rurais, disse Fang Ming, responsável pelos planos do grupo. Ele disse que o consórcio planeja enviar até o fim do ano uma solicitação de licença bancária à Comissão Regulatória de Bancos da China. Ele espera abrir o banco em 2014.
Fonte: Valor Econômico