O fantasma da terceirização e todos os prejuízos que ela ocasiona ganha terreno no Santander, em setor considerado estratégico pelo banco: o atendimento empresarial, departamento que presta assessoria a contas com grandes movimentações de dinheiro. O Santander contratou uma empresa para fazer o atendimento das pessoas jurídicas.
O Sindicato dos Bancários de são Paulo apurou que as demissões já começaram no segundo nível, área responsável pelo suporte técnico direcionado ao cliente. Dos cinco analistas, dois já foram dispensados e uma terceira pediu demissão ao ser realocada.
Segundo o diretor da Fetec-CUT/SP, Anderson Pirota, o Santander descumpriu o que havia prometido aos trabalhadores e ao movimento sindical. “O banco havia garantido que o atendimento a contas empresariais não seria terceirizado. Mais uma vez o Santander erra ao precarizar o atendimento de um segmento tão importante como este”, afirma.
Rotina afetada
De acordo com o Santander, os funcionários do primeiro nível do setor, responsáveis pelo atendimento inicial, serão realocados para o atendimento de contas correntes de pessoas físicas depois de passarem por um treinamento.
Essa mudança significa que de cara a rotinas dos bancários serão afetadas, pois o atendimento empresarial funciona de segunda a sexta, das 8h às 20h, e o a pessoas físicas opera 24 horas por dia, sete dias por semana.
Dados sigilosos
Mas as alterações de rotina, os desligamentos e as realocações não são todos os problemas que envolvem a terceirização do setor. Com a medida, os dados sigilosos dos clientes ficarão nas mãos de pessoas que não possuem vínculos empregatícios com o Santander e que, portanto, não responderão diretamente ao banco por erros ou vazamentos de dados.
Um bancário que trabalhava neste departamento conta que tinha acesso a todas as contas de empresas, inclusive movimentações detalhadas, empréstimos, limites e toda a parte financeira. “Fazíamos um atendimento muito amplo, com muitos detalhes, para clientes que movimentam valores extraordinariamente altos, onde erros representam prejuízos muitos elevados.”
Ainda de acordo com este bancário, a empresa contrata para gerenciar as contas empresariais possui um índice de eficiência menor do que o dos trabalhadores próprios do banco.
“Temos uma equipe preparada e muito capaz, que está desmotivada por causa da terceirização, pois o banco sabe que o atendimento da empresa contratada é muito menos eficiente em relação ao nosso, e sabe também que os resultados da parceira são maquiados para mostrar que estão dentro dos padrões”, denuncia.
Para Pirota, o banco deve repensar a terceirização do setor. “Os trabalhadores e clientes, que são os verdadeiros responsáveis pela grandeza do banco, merecem respeito e valorização, portanto é fundamental que o banco reveja essa decisão o quanto antes para evitar futuros danos aos clientes, bem como aos trabalhadores.”
Intermediação fraudulenta
Tramita no Congresso Nacional o projeto de lei 4330/2004, de autoria do deputado federal e empresário Sandro Mabel (PMDB-GO), que pretende institucionalizar a terceirização nas atividades-fim das empresas.
Se aprovada, a medida facilitará a intermediação fraudulenta de mão de obra. Atualmente ainda casos semelhantes podem ser revertidos na Justiça do Trabalho.
Mobilização
Na próxima semana, haverá nova mobilização da CUT e centrais sindicais em Brasília contra o PL 4330, do deputado federal Sandro Mabel (PMDB-GO), que prevê a terceirização de todas as áreas das empresas.
Na terça-feira, dia 17, ocorrerão visitas aos gabinetes dos deputados para buscar aumentar o apoio contra esse projeto nocivo para a classe trabalhadora e o Brasil. E na quarta-feira, dia 18, às 10h, acontecerá audiência pública no plenário da Câmara, com a participação de autoridades e convidados.
“Precisamos fazer pressão dentro e fora do Congresso Nacional para mostrar que esse projeto tem que ser arquivado porque não representa os interesses dos trabalhadores e do país”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.
Fonte: Contraf-CUT com Seeb São Paulo