O que faz um funcionário terceirizado contratado por uma instituição financeira e que se senta ao lado de um bancário, na mesma sala? Normalmente, segundo relatos de empregados, a mesma tarefa. No entanto, sem as mesmas condições de trabalho, sem o mesmo tratamento, sem as mesmas ferramentas e a mesma representação sindical.
Eles ganham menos e trabalham em situação precária. Se a situação pode piorar? Sim. Quem é bancário hoje pode se tornar o terceirizado amanhã. É o que prevê o projeto de lei de número 4330 do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO).
O Sindicato dos Bancários de São Paulo luta pela sua alteração, já que o PL regulamenta a terceirização fraudulenta e ameaça até mesmo os direitos estabelecidos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
A funcionária de uma empresa terceirizada conta um pouco sobre sua rotina: “Acesso as mesmas informações de clientes que o bancário que trabalha comigo. Posso verificar quais transações um cliente do banco fez no cartão de crédito, quanto ele gastou e onde fez a compra. Tenho endereço, número de documentos, todas as informações. Também tenho acesso a microfilmagens de cheques.” Mas, na sala onde trabalha, até a cadeira é diferente. “A deles tem encosto maior e apoio para braços. A nossa não.”
A trabalhadora da terceirizada contratada por um banco privado também não usufrui dos direitos conquistados pela categoria bancária. “Meu vale-refeição é de R$ 10 ao dia. Se levo comida, preciso pagar para esquentar a marmita no boteco em frente ao trabalho. Não posso usar a copa, que é de uso exclusivo dos funcionários do banco. Não tenho vale-alimentação nem plano de saúde, então pago o convênio por minha conta, mas se fico doente, não aceitam o atestado do médico do convênio, só aceitam se for do SUS.”
Segundo a trabalhadora, mesmo entregando o atestado, o registro do ponto acusa como falta justificada, no entanto, a empresa desconta o dia e todos os benefícios no pagamento.
Outra terceirizada, que recebe um salário ainda menor, informa que por receber menos ganha vale-alimentação. O valor mensal é de R$ 65, insuficiente até para a comida de uma só semana. Essa funcionária trabalha com abertura e validação de contas corrente pessoa jurídica, com acesso a todas as informações de clientes, assim como os bancários.
As funcionárias também passam por momentos constrangedores na hora de usar o banheiro, que por sinal, são “bem sujos”. “Se demoramos mais de 10 minutos alguém vai atrás da gente para saber o que estamos fazendo.” Há alguns dias, um rato caiu em cima da mesa onde uma delas trabalha. “O forro é velho, parece ser feito de isopor, então caem insetos, como baratas. Desta vez foi um rato, mesmo. E por todo canto tem muita poeira”, relata.
No local em que essas terceirizadas trabalham, não existe ambulatório médico. Quem socorre o funcionário que vem a passar mal é um dos seguranças. Esses profissionais também fazem a revista na bolsa das funcionárias na saída do prédio, diariamente.
Quando algum trabalhador resolve questionar a diferença dos direitos, já que o trabalho é igual, a resposta é dura. “Esses dias, um colega reclamou do salário dele, disse que não conseguia pagar a faculdade. O chefe falou pra ele ir catar latinha, então. Ele não aguentou, pediu demissão.”
Luta nas ruas
Na terça-feira 6, mais uma vez a classe trabalhadora foi às ruas contra o PL 4330. O Dia Nacional de Luta foi convocado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e demais centrais sindicais e reuniu 3 mil pessoas na Avenida Paulista. No mesmo dia, manifestações ocorreram nas capitais de diversos estados brasileiros, de norte a sul do país.
“E estaremos nas ruas de todo o país, no parlamento em Brasília, onde for necessário para barrar o PL 4330, que quer passar por cima dos diretos dos trabalhadores, conquistados após tantos anos de luta”, afirma a secretária-geral do Sindicato, Raquel Kacelnikas.
A CUT nacional recomenda aos trabalhadores que enviem e-mails aos integrantes da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, na qual o projeto deve ser votado no dia 13 ou 14 de agosto.
Fonte: Contraf-CUT com Seeb São Paulo