A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) pretende estender, a partir de 2014, o Banco Postal à sua rede de agências franqueadas. Apenas lojas próprias da estatal dispõem atualmente do serviço, que é operado pelo Banco do Brasil. O plano desperta apreensão entre donos de franquias e interessados em abrir novas unidades, que temem o aumento dos custos operacionais.
A abertura do Banco Postal na rede franqueada faz parte das regras da licitação que os Correios querem fazer no segundo semestre, para ampliar o número de lojas. Essa licitação vai abranger “em torno de 500 agências”, conforme revelou a vice-presidente de clientes e operações, Glória Guimarães, em reportagem publicada na edição desta terça-feira (2) do jornal Valor Econômico.
Na contramão
“Esse plano é mais um que está totalmente na contramão da história. O BB tem que chamar os concursados e melhorar o atendimento nas agências e postos de atendimento, em vez de estender o Banco Postal para a rede franqueada dos Correios, onde não tem bancários nem vigilantes”, protesta William Mendes, secretário de formação da Contraf-CUT e coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB.
“Esse modelo de precarização e insegurança não é bom para todos, contrariando a propaganda milionária do banco”, destaca. “O banco público que queremos e defendemos não pode se pautar pela lógica do lucro fácil, obtido na base da redução dos custos, mas sim na garantia de um atendimento de qualidade e seguro para todos os clientes do banco e a população”, salienta William.
Licitações
Conforme a notícia, o reforço das lojas se daria em estados como Rio de Janeiro, Bahia e Paraíba, que tiveram grande concentração de licitações “desertas” ou “fracassadas”. No total, 288 unidades não despertaram interesse do mercado ou os concorrentes não conseguiram preencher as exigências dos Correios. Agora, a estatal pretende licitar boa parte das franquias que “micaram” da última vez, além de ampliar o número de lojas. Atualmente existem cerca de 1,1 mil agências franqueadas no país, que equivalem a 31% do faturamento global da ECT.
Na última licitação, cujos contratos foram assinados no ano passado, já havia a perspectiva de abertura do Banco Postal nas franquias. Só que isso jamais foi colocado em prática, deixando de fazer parte da lista de preocupações imediatas dos operadores. Por enquanto, o serviço financeiro funciona em 6.167 das 6,3 mil lojas próprias da estatal.
O assunto voltou à tona com essa nova licitação. A minuta do edital, que está em audiência pública, vai ganhar sua versão definitiva até outubro. Glória se mostra otimista com o sucesso da nova concorrência e destaca seus pontos atrativos, como maior liberdade na oferta de serviços e flexibilização das exigências, incluindo o tamanho dos imóveis necessários para instalar as agências e até mesmo os documentos para comprovar sua titularidade.
Nos últimos contratos da rede franqueada, a possibilidade de abertura do Banco Postal não foi efetivada porque, segundo Glória, vivia-se um momento de transição. O BB pagou R$ 2,3 bilhões, só como valor básico, para substituir o Bradesco como parceiro dos Correios no negócio a partir de janeiro de 2012. Agora, conforme avalia a executiva, já se pode considerar esse processo de transição bem encaminhado.
“O nosso objetivo agora é padronizar a rede”, afirma Glória, referindo-se aos serviços oferecidos pelas agências próprias e pelas franqueadas. Isso motivou a decisão de liberar, de vez, o funcionamento Banco Postal também nas franquias. “A perspectiva é que, no início de 2014, possamos ter pelo menos um projeto-piloto”, diz a vice-presidente.
Ela ressalta que a decisão de onde e quando implantar o serviço financeiro nas lojas franqueadas será tomada “em conjunto” com o BB. Já o BB, procurado pelo jornal, afirma que a implantação do projeto-piloto e do serviço em outras unidades “depende de conversas com os franqueados”.
Enquadramento dos trabalhadores
Ainda conforme a reportagem, há temor entre os donos de lojas e interessados na nova licitação. O presidente da Associação Brasileira das Franquias Postais (Abrapost), Chamoun Joukeh, cobra mais detalhes sobre a abertura do Banco Postal nas lojas. Ele diz que até a categoria profissional à qual vão pertencer os funcionários responsáveis pelo futuro atendimento da área financeira das agências causa apreensão.
Ninguém sabe se serão carteiros, comerciários ou bancários, por exemplo. “Temos muitas dúvidas. Podem ser questões aparentemente pequenas, mas que se traduzem em custos muito importantes no dia a dia das operações.”
A Associação Nacional das Entidades Regionais de Agências de Franquias Postais (Apost), que representa outros 479 franqueados em todo o país, também demonstra inquietação. O presidente da Apost, José Jorge de Moraes Filho, coloca até questões tributárias entre suas preocupações. “Hoje, 80% da rede franqueada está no Simples. Será que poderemos continuar recebendo esse tipo de tratamento com o serviço de banco?”, questiona.
Insegurança
Moraes Filho diz que, além de aspectos trabalhistas, como o piso salarial de quem faz o atendimento financeiro, a abertura do Banco Postal nas lojas traz outras perguntas. Haverá necessidade de instalar portas giratórias nas agências? Quem cobrirá o seguro contra assaltos? Será preciso ter segurança armada nas agências?
“Gera insegurança participar de uma licitação sem essas definições”, diz Moraes Filho. Para o empresário, dono de uma franquia na região de Ribeirão Preto (SP), a melhor saída é deixar a implantação do Banco Postal como uma “escolha” do franqueado, não como exigência da matriz.
Em shopping centers bem abastecidos com serviços bancários, segundo ele, pode simplesmente não ser vantajoso. Já em lojas de cidades pequenas do interior, acredita o presidente da Apost, o serviço pode se tornar uma possibilidade de incrementar receitas.
Negociação
Essa nova estratégia de atendimento será levada ao debate na Comissão de Empresa dos Funcionários do BB, visando pautá-la em futura negociação com o banco. “Vamos avaliar esse conjunto de informações e intensificar a pressão sobre a direção do banco para que ela mude essa gestão privada que não leva em conta o atendimento de qualidade para os clientes e a sociedade brasileira”, conclui William.
Fonte: Contraf-CUT com Valor Econômico