Apesar de criar 11.978 empregos em todo país no primeiro semestre de 2011, os bancos aumentaram o número de demissões e intensificaram a prática de usar a rotatividade para diminuir o salário dos bancários e aumentar os lucros. Os números da Pesquisa de Emprego Bancário, elaborada com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram 18.559 desligamentos nos primeiros seis meses do ano. Desde 2009, quando a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e o Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese) começaram a realizar o levantamento, foram registrados 82.001 desligamentos nos bancos.
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Os empregos gerados no 1º semestre são o resultado de 30.537 admissões e 18.559 desligamentos. Esse saldo positivo significa expansão de 2,48% no emprego bancário. Na comparação com o saldo de 1.265.250 postos gerados em todos os setores da economia no primeiro semestre, os bancos contribuíram com apenas 0,95% do total. No mesmo período, a remuneração média dos bancários admitidos foi de R$ 2.497,79, valor 38,39% menor que a média dos desligados, de R$ 4.054,14.
“Esse número descabido de desligamentos comprova a estratégia dos bancos de utilizar a rotatividade para reduzir gastos com a folha de pagamento e aumentar ainda mais os seus lucros estrondosos, que superaram R$ 23 bilhões no primeiro semestre”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.
“A ameaça de demissão paira sobre as cabeças dos bancários e serve como pressão para o cumprimento de metas abusivas e de combustível para o assédio moral. Precisamos de garantias que protejam o emprego dos bancários, como a ratificação a Convenção 158 da OIT que impede as dispensas imotivadas”, sustenta Cordeiro. Por isso, o emprego decente é o tema central da Campanha Nacional dos Bancários 2011, cujas negociações com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) começam nesta terça e quarta-feira (30 e 31), em São Paulo.
Contratações nas faixas de remuneração mais baixas
Outro dado que aponta a estratégia dos bancos de aumentar lucros por meio das demissões mostra que, entre janeiro e junho, as faixas de remuneração de até 3 salários mínimos tiveram saldo positivo, totalizando 16.231 novos postos de trabalho. O maior saldo de empregos foi registrado para a faixa de remuneração entre 2 e 3 salários mínimos, responsável pela geração de 15.020 vagas.
Já todas as faixas salariais acima de 3 salários mínimos tiveram saldo negativo de geração de empregos, com destaque para a faixa entre 3 e 4 salários mínimos que apresentou o saldo negativo mais expressivo, com o fechamento de 1.196 vagas.
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A rotatividade do setor financeiro também é demonstrada pelos dados relativos ao tempo de serviço dos desligados no primeiro semestre.
Os trabalhadores com até um ano de banco somam 19,62% total de 18.559 demissões e aqueles que estavam há mais de 1 e menos de 5 anos no emprego, representam 37,43% do total de demissões. Dos trabalhadores desligados, 26,08%, estavam no emprego há 10 anos ou mais e recebiam remuneração média de R$ 5.022,53, demonstrando a estratégia de dispensar os empregados mais antigos para reduzir os custos dos bancos.
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Sem perspectiva de carreira
Os dados do CAGED mostram que, no primeiro semestre, houve crescimento das demissões sem justa causa, que representava 42,02% dos desligamentos no primeiro semestre de 2010 e passou para 46,81% do total de desligamentos no mesmo período de 2011.
A saída do emprego por iniciativa do próprio bancário foi responsável por 46,99% do total de desligamentos nos bancos. As aposentadorias, por sua vez, correspondem a apenas 1,60% dos casos de desligamento, totalizando 297 bancários. Esse número, no entanto, está subavaliado, na medida em que alguns bancos federais classificam o desligamento por aposentadoria como “demissão a pedido”. A remuneração média para aposentados no setor foi de R$ 2.851,29.
“Os números mostram os efeitos perversos da enorme rotatividade e da política discriminatória de remuneração dos bancos, que fazem com que a profissão de bancário deixasse de ser valorizada. Cada vez menos se vê possibilidade hoje de fazer uma carreira num banco, pois o trabalhador sabe que será demitido ou adoecerá diante das precárias condições de trabalho”, avalia Carlos Cordeiro.
TABELA 9
Desligados e remuneração média por tipo de desligamento
Brasil – Janeiro a Junho de 2011
Tipo de Desligamento
Desligados
Nº de trabalhadores
Part. (%)
Rem. Média
(em R$)
Desligamento por demissão sem justa causa
8.687
46,81%
4.005,90
Desligamento por demissão com justa causa
519
2,80%
3.060,64
Desligamento a pedido
8.721
46,99%
4.250,52
Desligamento por término de contrato
126
0,68%
2.913,49
Desligamento por aposentadoria
297
1,60%
2.851,29
Desligamento por morte
119
0,64%
4.104,89
Término de contrato de trabalho por prazo determinado
90
0,48%
910,71
Total
18.559
100,00%
4.054,14
Fonte: MTE. CAGED
Elaboração: DIEESE. Subseção Contraf-CUT
Desigualdade de gênero persiste nos salários
As mulheres ocuparam 50,14% do total de vagas criadas nos primeiros seis meses no setor bancário, totalizando 6.006 postos de trabalho, enquanto 5.972, ou 49,86% do total, foram ocupados por homens.
TABELA 3
Admitidos, desligados e remuneração média por gênero
Brasil – Janeiro a Junho de 2011
Gênero
Admitidos
Desligados
Saldo
Diferença da Rem. Média (%)
Nº de trabalhadores
Part. (%)
Rem. Média
(em R$)
Nº de trabalhadores
Part. (%)
Rem. Média
(em R$)
Masculino
15.940
52,20%
2.842,18
9.968
53,71%
4.644,93
5.972
-38,81%
Feminino
14.597
47,80%
2.121,72
8.591
46,29%
3.368,66
6.006
-37,02%
Total
30.537
100,00%
2.497,79
18.559
100,00%
4.054,14
11.978
-38,39%
Fonte: MTE CAGED
Elaboração: DIEESE – Subseção Contraf-CUT
A análise da remuneração média revela que os valores pagos tanto para as trabalhadoras admitidas quanto para as desligadas é inferior aos dos homens. As mulheres desligadas saíram do banco com rendimento médio de R$ 3.368,66, um valor 27,48% inferior àquele auferido pelos homens (R$ 4.644,93). Na contratação, as mulheres recebem, em média, R$ 2.121,72, valor 25,35% a menos do que a remuneração dos homes, em média de R$ 2.842,18.
TABELA 4
Remuneração Média dos admitidos e desligados, por gênero
Brasil – Janeiro a Junho de 2011
Remuneração Média (em R$)
Masculino
Feminino
Diferença em % Remuneração Média
Admitidos
2.842,18
2.121,72
-25,35%
Desligados
4.644,93
3.368,66
-27,48%
Fonte: MTE CAGED
Elaboração: DIEESE – Subseção Contraf-CUT
Norte e Nordeste são destaque entre as regiões
Os dados mostram também crescimento percentual no número de empregos nos bancos nas regiões Norte e Nordeste acima da média nacional. As novas vagas criadas significam expansão de 7,17% do emprego bancário na região. O Nordeste também apresentou expressivo aumento do emprego (6,07%), como resultado de um saldo positivo de 3.506 vagas geradas no período analisado. Na média nacional, o incremento das vagas ficou em 2,48%.
Entretanto, em termos absolutos, a região Sudeste registrou o maior saldo de emprego, com a geração de 4.794 vagas. No extremo oposto, a região Centro-Oeste apresentou o menor saldo, com a criação de 973 postos de trabalho em 2011.
TABELA 1
Expansão do Emprego por Região Natural
Brasil – Janeiro a Junho de 2011
Região do País
Número de Trabalhadores em dez/2010(1)
Saldo de emprego 2011
Expansão do emprego
Norte
16.151
1.158
7,17%
Nordeste
57.724
3.506
6,07%
Sudeste
294.093
4.794
1,63%
Sul
69.748
1.547
2,22%
Centro-Oeste
45.381
973
2,14%
Total
483.097
11.978
2,48%
Fonte: MTE CAGED
Elaboração: DIEESE – Subseção Contraf-CUT
1) Dados extraídos da RAIS/MTE 2010
Contudo, os números revelam uma grande disparidade de remuneração entre as regiões. Na região Norte, a remuneração média de admissão foi de R$ 1.581,90, aproximadamente 46,70% inferior à remuneração de admissão registrada na região Sudeste, que foi de R$ 2.972,23.
Além disso, a diferença de remuneração entre desligados e contratados também é maior fora do Sudeste, atingindo impressionantes 52,78% no Centro-Oeste. Em todas as regiões os salários dos novos funcionários foi ao menos 45% menor que o daqueles que deixaram as empresas – com exceção do Sudeste, onde essa diferença ficou em 29,24%.
“Esses dados comprovam que os bancos adotam uma remuneração diferenciada por regiões, discriminando os que estão fora do eixo Sul-Sudeste, o que reforça ainda mais a luta dos bancários por igualdade de oportunidades”, conclui o presidente da Contraf-CUT.
TABELA 2
Movimentação e Remuneração Média dos Trabalhadores, por região natural
Brasil – Janeiro a Junho de 2011
Região do País
Admitidos
Desligados
Saldo
Diferença da Rem. Média (%)
Nº de trabalhadores
Part. (%)
Rem. Média
(em R$)
Nº de trabalhadores
Part. (%)
Rem. Média
(em R$)
Norte
1.703
5,58%
1.581,90
545
2,94%
2.898,95
1.158
-45,43%
Nordeste
5.055
16,55%
1.717,93
1.549
8,35%
3.400,79
3.506
-49,48%
Sudeste
17.802
58,30%
2.972,23
13.008
70,09%
4.200,41
4.794
-29,24%
Sul
3.874
12,69%
2.062,20
2.327
12,54%
3.956,33
1.547
-47,88%
Centro-Oeste
2.103
6,89%
1.900,30
1.130
6,09%
4.024,58
973
-52,78%
Total
30.537
100,00%
2.497,79
18.559
100,00%
4.054,14
11.978
-38,39%
Fonte: MTE CAGED
Elaboração: DIEESE – Subseção Contraf-CUT
Balanços mostram Itaú e Santander na contramão
A Pesquisa de Emprego Bancário traz ainda uma analise da movimentação de pessoal registrada no balanço dos cinco maiores bancos brasileiros. Em junho de 2011, o total de funcionários dos cinco maiores bancos do país – Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander – atingiu 466.053 trabalhadores. Os números dizem respeito a todos os funcionários da holding.
Enquanto o CAGED registrou expansão de 2,48% do emprego bancário no primeiro semestre de 2011, os balanços dos cinco maiores bancos brasileiros apresentaram expansão menor, de 1,37% do quadro de funcionários (incluindo trabalhadores bancários e não bancários).
TABELA 10
Estoque de funcionários nos cinco maiores bancos do país
Brasil – Dezembro/10 a Junho/2011
Instituição
Total de Empregados
Saldo em 2011
Variação dez/10 – jun/11
dez/10
mar/11
jun/11
Banco do Brasil
118.879
120.797
122.409
3.530
2,97%
Bradesco
95.248
96.749
98.317
3.069
3,22%
CEF
83.185
83.504
84.420
1.235
1,48%
Itau
108.040
109.836
107.546
(494)
-0,46%
Santander*
54.406
54.375
53.361
(1.045)
-1,92%
Total
459.758
465.261
466.053
6.295
1,37%
*Sendo 6.000 no exterior
Fonte: Relatório de administração dos bancos
Elaboração: DIEESE. Subseção Contraf-CUT
Os saldos mais preocupantes no fechamento do primeiro semestre de 2011 são dos bancos Santander e Itaú, pois encerraram o período com saldos negativos em 1.045 e 494 postos de trabalho, respectivamente, em relação a dezembro de 2010.
Em dezembro de 2010, o número de funcionários do Itaú era de 108.040 trabalhadores. Em março de 2011, esse total subiu para 109.836 pessoas (elevação equivalente à 1,66%), todavia, entre março e junho de 2011, houve redução do quadro de funcionários em 2.290 postos, atingindo a marca de 107.546 empregados. Esses valores significam queda de 0,45% em relação a dezembro de 2010 e de 2,08% em relação a março de 2011.
No Santander, o número total de funcionários em dezembro de 2010 era de 54.406 trabalhadores. Ao final do primeiro semestre de 2011, o número registrado foi 53.361 (queda, também, de aproximadamente 2% em relação a dezembro). Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco apresentaram saldo positivo em 3.530, 1.235 e 3.069, respectivamente.
“Os bancos privados, especialmente o Itaú e o Santander, atuaram na contramão do setor financeiro e da economia brasileira, ao cortarem empregos no primeiro semestre, apesar de seus lucros astronômicos. Essas instituições estão devendo contrapartidas sociais para o desenvolvimento do Brasil”, afirma Carlos Cordeiro.
Fonte: Contraf-CUT