Na última sexta-feira (03), dentro da programação da Conferência Estadual dos Bancários e das Bancárias, foi realizado o congresso específico das empregadas e dos empregados da Caixa (Conecef/ES).
Marcio Wanderley, Diretor do Sindicato dos Bancários da Baixada Fluminense e empregado da Caixa Econômica Federal, participou de forma virtual do evento.
A mesa de abertura abordou o tema “Caixa 100% pública sob ameaça: nossa luta continua” e “Condições de Trabalho: reestruturações, promoções, PcDs, teletrabalho, tecnologia, saúde dos empregados, assédio moral, metas e minha trajetória. Sob a mediação dos dirigentes do Sindicato, Lizandre Borges e Ronan Teixeira, as duas primeiras mesas tiveram como convidados Fabiana Uehara, eleita para o CA da Caixa, e Léo Quadros, presidente da Apcef-SP e diretor da Fenae.
Fabiana destacou a importância da Caixa 100% pública. Ele reforçou o papel da Caixa para o Brasil. “A Caixa existe para reduzir as desigualdades. Nosso papel é defender todas as empresas públicas. Essa é uma questão de cidadania”, assinalou.
A conselheira eleita afirmou que a recente aprovação pelo Conselho de Administração (CA) da migração das loterias para uma subsidiária é a nova ameaça que paira sobre a Caixa. Fabiana alertou que essa transferência pode comprometer os investimentos da Caixa em programas sociais que são mantidos com parte da arrecadação das loterias.
A arrecadação das loterias Caixa chegou a R$ 23,4 bilhões em 2023, 39,2% deste total (R$ 9,2 bilhões) foram destinados a programas sociais mantidos pelo governo federal. “É falso que transferir as loterias da Caixa para uma subsidiária irá melhorar e agilizar os processos. Um exemplo disso é a Caixa Seguridade, que agora é administrada por uma subsidiária, tem problemas de sistema que acabam gerando retrabalho para os empregados do banco”, pontuou.
Léo Quadros complementou: “Hoje, em relação à Caixa Seguridade, os executivos do banco vão dizer que a IPO [Oferta Pública Inicial] foi um processo bem-sucedido”. Ele pergunta: “Para quem? Para os parceiros e acionistas que são remunerados”. Léo disse que os empregados têm de trabalhar cada vez mais. “O lucro foi terceirizado, mas o trabalho ficou com os empregados da Caixa”, criticou. “Agora querem fazer o mesmo com as loterias”, alertou. “A sociedade perde para que alguns poucos ganhem”.
“Como foi pontuado aqui pelos nossos convidados, os desafios são enormes. Já enfrentamos diversas tentativas de privatização da Caixa. Agora arrumaram um jeito de comer os ativos do banco pelas beiradas, num processo de desmonte da Caixa”, disse Lizandre.
A coordenadora-geral do Sindicato, Rita Lima, lembrou que desde a década de 1990, sob Collor e FHC, o movimento sindical e as entidades associativas vêm organizando a resistência em defesa da Caixa. Fizemos campanhas históricas para defender o banco. A cada governo aparece um novo modelo de privatização. Talvez seja o momento de organizarmos uma grande campanha nacional em defesa da Caixa”, sugeriu Rita.
Fabiana ponderou que a organização de uma grande campanha em defesa da Caixa tem de conscientizar a população, que precisa entender as implicações da Caixa perder ativos valiosos.
O dirigente Ronan Teixeira fez uma reflexão sobre a ameaça de privatização dos ativos da Caixa. “Não dá para encarar esse processo de privatização com normalidade. Precisamos enfrentar este Congresso com muita força”, disse se referindo aos deputados e senadores que têm empenhados seus mandatos a serviço dos interesses das elites empresariais e contra a classe trabalhadora. O dirigente acrescentou: “Como disse Fabiana, temos que defender a Caixa 100% pública para reduzir as desigualdades. No capitalismo não tem espaço para igualdade social, de gênero, racial. Como esse modelo [econômico] é muito difícil avançar nessas questões”.
Repercutindo a fala de Ronan, Fabiana completou: “Temos que debater que tipo de sistema financeiro queremos. Não queremos um sistema que sangre a sociedade. Quero levar esse debate para o Conselho de Administração da Caixa”.
Condições de trabalho
Ainda no período da manhã, foi debatido o tema condições de trabalho. Fabiana afirmou que os dirigentes precisam ouvir atentamente as empregadas e os empregados para entender as demandas de quem está na ponta do sistema. “Quem é a cara da Caixa? É quem está na estrutura interna ou quem está atendendo a população nas agências? A Caixa precisa valorizar esses empregados [que estão na ponta do atendimento]”, assinalou.
Ela destacou que a troca de informações com os empregados é fundamental para que se possa levar essas demandas à empresa. “Quem navega no Linkedln acha que a Caixa é a melhor empresa do mundo para trabalhar. Todo mundo é feliz. Mas sabemos que não é assim. Temos que discutir questões como as metas, que estão adoecendo as trabalhadoras e os trabalhadores”.
A conselheira eleita também questionou: “Sabem quantos normativos a Caixa tem? Mais de 2 mil. E quantos são obrigatórios que vocês saibam? Todos. Porque tudo será usado contra vocês num eventual processo disciplinar. Os normativos não são feitos para defender os empregados, mas para proteger a empresa”, alertou.
Fabiana falou sobre o drama de empregados que passaram a ter a condição de PcD. Ela afirmou que esses empregados foram submetidos a uma junta da Caixa que decidia se o empregado era de fato PcD. “Depois de muita luta, conseguimos avançar nessa questão e agora a Caixa aceita o laudo que vem de um especialista. Nossa luta é priorizar os colegas PcDs”. Ela também cobrou a redução da jornada de trabalho para empregados que são pais de PcD e a prioridade para serem inseridos no teletrabalho.
A reestruturação da Caixa foi o ponto destacado por Léo Quadros. O dirigente da Fenae criticou o processo de desmonte do governo Bolsonaro e da gestão Pedro Guimarães e sobre a urgência de reconstruir essas áreas. Ele citou como exemplo a Gestão de Pessoas.
Rita Lima registrou algumas denúncias que chegaram ao Sindicato sobre condições de trabalho. A dirigente falou sobre o caso de empregados que foram ameaçados durante o atendimento do programa “Pé de Meia”. “Algum empregados foram agredidos e até sofreram ameaça de morte”. Ela relatou outro caso de uma empregada que adoeceu por enfrentar sérios problemas no atendimento. “Os empregados não têm segurança e garantias no ambiente de trabalho. Considero um tema importante para levarmos para o Congresso Nacional deste ano. A coordenadora do Sindicato falou ainda sobre a importância de garantir destaque às pautas das mulheres na mesa de negociação do Conecef.
A dirigente também denunciou o uso do teletrabalho como moeda de troca pela Caixa. “Alguns empregados têm sido obrigados a voltar para o presencial porque não cumpriram as metas, já aquele que cumpre é mantido. A Caixa está usando o teletrabalho para punir ou premiar. Vamos levar esses casos para a Nacional”, avisou.
No tema saúde, Ronan divulgou a pesquisa que está sendo feita pelo Sindicato em parceria com o Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo. Ele explicou que a pesquisa está ouvindo a categoria bancária para que o Sindicato possa desenvolver ações de prevenção, acolhimento, encaminhamento e negociação junto aos bancos para recolocar o bancário numa condição digna de trabalho. Ele pediu ajuda dos colegas na divulgação da pesquisa que pode ser respondida online até o dia 31 de maio.
Saúde Caixa
O plano de saúde da Caixa foi novamente um dos temas que despertaram grande atenção dos empregados. Léo Quadros, que falou sobre o Saúde Caixa na Conferência de 2023, retomou o tema este ano. Ele comentou a CGPAR 52 que revogou as resoluções 42 e 49. Com a nova resolução, a participação das empresas públicas no custeio de planos pode subir para até 70% das despesas. Ele explicou que no caso do Saúde Caixa a situação não se altera porque o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) já prevalecia sobre a CGPAR 42, mantendo a proporção do custeio 70/30.
Léo alertou, no entanto, que o grande desafio do Saúde Caixa continua sendo o teto que limita a participação do banco no custeio em 6,5% da folha de pagamento e proventos. Segundo ele, essa trava compromete a sustentabilidade e viabilidade financeira do plano
A CGPAR 52 não excluiu alguns retrocessos impostos pela resolução anterior (42). Foram mantidas as restrições que impedem a incorporação dos acordos futuros à concessão de licença prêmio e abono assiduidade, gozo de férias superior a 30 dias e a incorporação de gratificações de cargos em comissão e funções gratificadas. Foi introduzida ainda uma nova vedação para que sejam concedidos adicionais por tempo de serviço aos trabalhadores das empresas. Esses direitos poderão ser mantidos apenas para as empresas que já tinham acordos coletivos em que eles fossem previstos.
Estratégias e eixos
Rita Lima afirmou que as dificuldades não podem intimidar a pauta de reivindicações dos empregados e das empregadas da Caixa na campanha deste ano. A dirigente destacou alguns eixos centrais: Caixa 100% pública, fim do assédio moral, fim das metas, PLR Social como direito, condições de trabalho, segurança dos empregados em atendimento, valorização dos empregados, revogação do teto de 6,5% do saúde Caixa e retorno das homologações das demissões nos sindicatos.
Os eixos foram submetidos e aprovados à unanimidade pelos presentes e serão enviados ao Comando Nacional dos Bancários. O dirigente do Sindicato Igor Bongiovani enfatizou que as discussões da campanha nacional fazem parte de um jogo político. “O processo de negociação é exaustivo. Somente com muita organização, mobilização e pressão conseguiremos avançar nas cláusulas que estamos reivindicando”, pontuou.
Antes do encerramento da mesa, foram eleitos os empregados e as empregadas (ativa e aposentados) que irão representar a base capixaba no Congresso Nacional dos Bancários 2024, que acontece nos dias 4, 5 e 6 de junho em São Paulo. Foram eleitos os seguintes membros titulares:
1 – Lizandre Borges (membra nata, integrante da CEE-Caixa)
2 – Ronan Teixeira (Sindibancário)
3 – Edmar Martins André (Apcef-ES)
4 – Fabiano Mazzocco
5 – Rachel Vaillant Amorim de Oliveira
6 – Jackeline Scopel Pereira
7 – Rita Lima (aposentados)
Foram definidos também os suplentes.
*com informações do Sindibancários/ES